Análise do poema de Camões ” Transforma-se o amador na cousa amada”

Eros e Psique 2

Transforma-se o amador na cousa amada,
por virtude do muito imaginar;
não tenho, logo, mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
pois consigo tal alma está ligada.

Mas esta linda e pura semidéia,
que, como um acidente em seu sujeito,
assim como a alma minha se conforma,

está no pensamento como idéia:
[e] o vivo e puro amor de que sou feito,
como a matéria simples busca a forma. [Read more...]

Resenha de Andam Faunos pelos Bosques, de Aquilino Ribeiro

Andam Faunos pelos bosques

Demorei para conhecer a obra de Aquilino Ribeiro, e agora que a conheço posso dizer que nunca li um escritor de língua portuguesa com um vocabulário mais rico do que ele. Não há na literatura brasileira algo que se compare à variedade de palavras que florescem em meio às frases e orações de Andam Faunos pelos Bosques.

A história do livro se passa no interior de Portugal e tem um toque mágico. Em uma vila, diversas moças adolescentes e jovens  estão sendo atacadas por um misterioso ser que apenas as derrubam e depois sai correndo. Nenhuma delas sabe descrever exatamente quem as atacou, apenas dizem que era um ser com muitos pelos. Com esse fato simples, Aquilino Ribeiro passa a descrever a fé, o clero e o povo mais humilde de Portugal.

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Resenha de Angústia, de Graciliano Ramos

Angustia Graciliano.Ramos

A narrativa desse romance reflete o pensamento e as emoções confusas do protagonista Luís da Silva. Graciliano Ramos soube muito bem colocar esse sentimento que mistura ira, inveja e ciúme em Luís da Silva. Esse é o ponto forte do romance; o ponto fraco são os outros personagens fora Luís da Silva, Julião Tavares e Marina, porque eles estão ali mais para fazer figuração. Para dizer a verdade, eu  gostei muito desse livro. O título do livro é correto, pois a angústia do personagem passa para o leitor porque tive a impressão que Graciliano Ramos poderia ter criado uma história parecida com menos páginas e personagens. Quanto à narrativa, ela realmente ganha força no final do livro, mas até lá é preciso um pouco de paciência.

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Resenha de São Bernardo, de Graciliano Ramos

São Bernardo

” A culpa foi desta vida agreste, que me deu uma alma agreste”.

O pensamento acima, do protagonista Paulo Honório, resume a personalidade de um personagem que narra a sua ascensão e queda em suas memórias de sua vida. Em termos morais, Paulo Honório não muda ao longo da história, uma vez que o seu caráter rude e desprovido de grande emoção é o mesmo do início ao fim. Graciliano Ramos desenvolve o protagonista desde o começo como sendo um homem com grande talento para os negócios, que sabe se defender e é um tanto diferenciado dos outros homens do sertão, por ter uma ética de trabalho e conseguir se manter distante das mazelas daquela região. [Read more…]

Resenha de Crime e Castigo, de Dostoiévski

crime e castigo

Crime e Castigo é um dos maiores romances da história e tem como uma característica o fato de ser um livro que reproduz a angústia psicológica de um personagem que desde o início já sabemos ser um assassino. O estilo de Dostoiévski é inconfundível, já que ele reproduz os pensamentos e as dúvidas mais íntimas dos personagens. O romance começa narrando a história de Raskólnikov, um estudante que vive de aluguel em um pequeno apartamento, no qual ele tem cada vez mais dificuldade em honrar seu compromisso . Raskólnikov ganha dinheiro fazendo pequenas traduções, no entanto, vive à beira da miséria. Como é um jovem muito neurótico e introspectivo,o estudante ( na verdade ex-estudante) durante seus vários momentos ociosos formula uma tese que pensa ser original: homens como César e Napoleão foram responsáveis por milhares de mortes, entretanto, foram considerados pela história como grandes heróis e conquistadores. Por que Raskólnikov pensa dessa maneira? Porque ele se vê oprimido pela velha- que no livro simboliza o capitalismo  devastador que  Dostoiévski tanto odiava.

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Resenha de Quando Nietzsche Chorou, de Irvin Yalom

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Nietzsche e a psicanálise
Nesse livro, Yalom narra o nascimento fictício da psicanálise. O Doutor Josef Breuer é chamado por Lou Salomé para tratar de seu amigo atormentado Friedrich Nietzsche. Conseguindo se aproximar do filósofo, que já tentara vários médicos, Breuer vai aos poucos tentando ganhar sua confiança; mas não é bem sucedido.

Então em uma atitude desesperada, propõe a Nietzsche que os papéis sejam invertidos; ele será o paciente e Nietzsche o médico. O resultado é surpreendente.

Breuer tentará encontrar na filosofia de Nietzsche a solução para conseguir se livrar da fixação sexual por uma paciente. O Doutor Breuer é um paciente desesperado que busca a solução para sua falta de crenças e, aflito, diz a Nietzsche que não sabe como e por que viver.

O filósofo não dará a resposta que Breuer precisa, e ele terá que em um processo de introspecção que Yalom narra com maestria, buscar seu processo de cura.

Esse seria o futuro da psicanálise: o próprio paciente expressando seus sentimentos através da fala encontra a salvação- pois o filósofo existencialista Kierkegaard já havia dito que a palavra é o que salva. Assim se livrando da angústia que mantinha em silêncio, o paciente encontra ele mesmo a solução para os seus problemas.

Nietzsche confronta Breuer com sua doutrina do eterno retorno. Cada ação não realizada volta à sua consciência por toda a eternidade. Essa é uma questão que atormenta muitos pacientes. Será que minha vida poderia ter sido melhor ou diferente? Nietzsche já havia dado a resposta em “Assim falou Zaratustra”: ” O que importa que você não tenha sido feliz? Quantas coisas são possíveis ainda!”

Então quais são as opções para Breuer? Viver a paixão com sua paciente violando assim a ética médica, ou permanecer com o amor de sua mulher e filhos? Com a ajuda da psicanálise, Breuer encontrará a resposta.

Yalom escreveu um livro convincente e que faz o leitor refletir.

Resenha de Hamlet, de William Shakespeare

Hamlet

Morrer…Dormir!…Talvez Sonhar! Uma Crítica de Hamlet
Um dos grandes mistérios da vida se Shakespeare era sua religião. Tendo nascido em um país que se tornou protestante de forma mais lenta do que em outros casos na europa, o poeta e dramaturgo inglês parecia estranhamente próximo ao catolicismo, por seus personagens simpáticos ao catolicismo, e seus dramas e comédias muitas vezes ambientados em um país católico como a Itália.

De maneira muito diferente de seus compatriotas, como o filósofo Thomas Hobbes e o poeta John Milton, que eram abertamente hostis ao catolicismo, Shakespeare apresentava padres, freiras e dogmas católicos de uma maneira muito realista e simpática.

O ambiente de Hamlet, no entanto, parece, de início, ser um drama protestante, pois a história se passa na Dinamarca, e Hamlet volta de Wittenberg, onde estudava, no coração da reforma protestante.Mas isso, na minha opinião, não impede que Hamlet seja uma obra profundamente católica.

A cena inicial mostra alguns soldados que estavam de sentinelas que avistam a alma do falecido rei, pai de Hamlet. Eles então avisam a Hamlet sobre o acontecimento. A alma então fala com Hamlet, e diz que foi assassinada, para a surpresa do personagem principal.

Ela continua sua história: diz que está condenada a vagar pela noite e durante o dia a jejuar nas chamas, até que estejam extintos os pecados de sua vida terrena. Aqui está uma clara representação do dogma católico do purgatório. Não acredito que se Shakespeare fosse hostil ao catolicismo, ou seja, se fosse protestante, jamais criaria uma cena como essa sem condená-la explicitamente.

A alma do pai de Hamlet quer vingança pelo seu assassinato, e ele conta ao filho como foi que tudo aconteceu, tendo sido morto por seu próprio irmão, tio de Hamlet, que torna-se então, amante da rainha.

O espírito lamenta, como católico que era, que tenha morrido sem a extrema-unção, sem confissão e os sacramentos. Hamlet então acredita no relato da alma de seu pai e jura vingança.

O drama da peça começa aí: como o espírito de Hamlet reage ao saber de tamanha traição ao seu pai e a perfídia de sua mãe e de seu tio. Hamlet então diz que há mais coisas entre o céu e a terra do que pode supor nossa filosofia. Isso tanto pode referir-se à alma de seu pai ter aparecido aos vivos, como a traição que reinava na sua família, que era mais do que todos podiam imaginar.

A forma como Hamlet reage ao saber da verdade de tamanha tragédia é a questão central nesse drama. Hamlet, que era uma pessoa justa, não parece conseguir suportar tamanha história de horror e começa a agir como se estivesse perturbado. Passa a falar com palavras estranhas com sua mãe,seu tio, e sua provável futura esposa, Ofélia.

Então, no meio da peça, Hamlet faz o seu famoso monólogo do ser ou não ser. O que Hamlet queria dizer com isso?

Poderia ser uma reflexão sobre a possibilidade do suicídio em quem está sofrendo com tamanha dor. Hamlet questiona se vale a pena suportar todas as misérias dessa vida, e se o suicídio seria um meio de escapar a tudo isso de maneira válida.

Será que existe alguma coisa depois da morte? Isso é o que Hamlet questiona. A resposta ele mesmo encontra em sua consciência cristã quando pensa na existência de uma outra vida, e na possibilidade que o inferno realmente exista, porque ele tem medo de que evitando os males de nosso mundo, possamos cair um tormentos ainda maiores no inferno, que é o local que ele imagina que exista de verdade.

Hamlet então rejeita o amor de Ofélia por causa da sua obsessão com a vingança; Ofélia vê-se rejeitada por Hamlet e termina se suicidando. Hamlet contempla a possibilidade de se tornar um assassino para fazer justiça. Essa é também a questão de saber se ele deve ser ou não ser um assassino. Em Hamlet, existe a possibilidade de que o filho ame a própria mãe, e seu desejo era o de matar seu tio justamente para viver esse caso proibido. Teria também desejado a morte de seu pai secretamente, mas foi surpreendido pela notícia de que sua própria mãe era responsável pela tragédia. Essa é uma interpretação psicológica do drama.

Eu prefiro a interpretação cristã. Hamlet é a própria existência do pecado original, em que o homem deseja o mal em sua alma. Lembra a advertência de Deus ao próprio Caim dizendo para que ele se controlasse, pois se isso não acontecesse, o pecado estava à porta, e isso seria o desejo de Caim, mas que sobre o pecado, ele deveria dominar e triunfar.

Shakespeare conhecia essa passagem da Bíblia, e a reproduz em Hamlet. Primeiro ele se sente triste e abandonado; não sabe o que fazer. Com isso segue que o desejo de vingança domine a sua vontade, e que o pecado do assassinato torne-se o seu desejo dominante. Com isso, como no livro do Gênesis, Hamlet estava com o pecado na porta de sua imaginação, no entanto, como Caim, Hamlet não foi forte o suficiente para suportar a provação e deixou-se dominar pela tristeza, que era conhecida pelos medievais como um dos sete pecados capitais.

Não irei contar o final, mas como em outras peças de Shakespeare, o mal triunfa, pois o dramaturgo inglês, como percebeu o filósofo alemão Schopenhauer, queria mostrar ao homem o próprio pecado de termos nascido. É o própria queda do homem e a maldade que reina em seu coração e mente, que Shakespeare pretende reproduzir em seus personagens.

A peça é dramática e tem momentos tensos e profundos, como quando Hamlet questiona se o suicídio é uma saída para os sofrimentos desse mundo. Nunca vi essa peça, que deve ser ainda melhor assistida do que lida. Uma obra fundamental para entendermos o próprio sentido do sofrimento e da vida.

Resenha de Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes

Dom Quixote

Dom Quixote é o maior romance de todos os tempos. Livro inspirador, extremamente engraçado e esperançoso, a obra do espanhol Miguel de Cervantes jamais perdeu a incrível força que possui. [Read more…]