Sobre a psique feminina

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Imagem: Daniel Murtagh- Raquel e Sara

Para o homem, a não compreensão deste aspecto pode ser mortal.

A Anima é a personificação de todas as tendências psicológicas femininas na psique do homem – os humores e sentimentos instáveis, as intuições proféticas, a receptividade ao irracional, a capacidade de amar, a sensibilidade à natureza e, por fim, mas nem por isso menos importante, o relacionamento com o inconsciente.

Nas suas manifestações individuais o caráter da anima de um homem é, em geral, determinado por sua mãe. Se o homem sente que a mãe teve sobre ele uma influência negativa, sua anima vai expressar-se, muitas vezes, de maneira irritada, depressiva, incerta, insegura, susceptível. No entanto, se ele for capaz de dominar estas investidas de cunho negativo, elas poderão, ao contrário, servir para fortalecer-lhe a masculinidade.

No interior da alma deste tipo de homem a figura negativa da mãe-anima repetirá, incessantemente, o mesmo tema: “ Não sou nada. Nada tem sentido. Com todos os outros é diferente, mas comigo…Nada me dá prazer.” Estes humores da anima provocam uma espécie de apatia, um medo a doenças, à impotência ou a acidentes. A vida adquire um aspecto tristonho e opressivo. Este clima psicológico sombrio pode, mesmo, levar um homem ao suicídio, e a anima torna-se, então, o demônio da morte.”

Marie-Louise Von Franz, O Homem e seus Símbolos

“Nas incontáveis qualidades da Lua, o homem viu o símbolo da natureza feminina, que parece para ele errática, mutável, inconstante e não-confiável.

[…] o caráter lunar da natureza feminina aparenta ao homem ser dependente apenas ao capricho dela. Se ela muda seu pensamento, ele até pode conceder pela concordância geral; nunca ocorre ao homem que, se ela muda, é porque algo mudou dentro de sua própria psique, que está bem pouco sob seu controle quanto, talvez, as condições do tempo.


24775109_1351152738329662_3019459764656064907_nO homem assume que ela mudou seu pensamento por causa de um capricho ou, talvez, por razões egoísticas convenientes. Ele espera que se ela disse que iria fazer uma coisa, 
então é verdade que ela iria. Em certo sentido, é claro, é verdade que ela deveria, mas como a natureza da mulher depende de um princípio vital cíclico, mutável, isso significa que quando chega o tempo da mulher cumprir sua promessa, as condições realmente mudaram. Isto é muito difícil para um homem entender porque seu princípio interior é o Logos… […] o da mulher é o sempre mutável princípio lunar.”

 

“O caráter cíclico da vida é a coisa mais natural do mundo para a mulher, mas permanece um completo mistério para o homem. Se a mulher está bem em um dia, e mal no outro, vai parecer a ela como se os objetos ou as condições mudaram de maneira rítmica, então o trabalho de hoje está fácil, mas a mesma coisa ficará difícil amanhã.

A vida para a mulher é cíclica, e sua experiência atual não é apenas o ritmo do dia e da noite, mas também o dos ciclos lunares. No curso deste ciclo, que estranhamente corresponde às revoluções da lua, a energia da mulher brilha enormemente, e depois decai.

Em sociedades onde os fatos da natureza não foram distorcidos, as vidas das mulheres e seus comportamentos são ditados pelo ciclo lunar. Lá suas vidas são focadas ao redor das mudanças regulares de sua parte psicológica. Períodos de trabalho em casa, de vida social, relação com os vizinhos e com o marido, com intervalos de reclusão. Nos dias passados sozinhas, elas experimentam ritos de purificação, para que possam entrar em contato com o seu inconsciente.

O tabu da menstruação era enfrentado como uma reação psicológica, por exemplo, do homem, que via nesta condição uma qualidade perigosa da mulher.

Afastando-se de seu marido, por exemplo, a mulher percebia que a necessidade de isolar-se era uma maneira de protegê-lo das suas qualidades perigosas de sua condição.”

Esther Harding, The inner meaning of the moon cycle, 1935, p.241 (tradução nossa a partir do inglês)

 

Carl Gustav Jung: nunca puxe para cima o submundo do Hades

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Pense sempre muito antes de falar. Evite contaminar seu vocabulário com “palavras de poder”.

“Existem tramas infernais de palavras, somente palavras, mas o que são palavras? Sê cauteloso com palavras, escolhe-as bem, toma palavras precisas, palavras sem armadilhas, não as entrelaces para que não surja nenhuma trama, pois tu és o primeiro que nela se enreda. Pois palavras têm significados. Nas palavras puxas para cima o submundo.” 

Pois palavras não são meras palavras, mas têm significados para quem foram compostas. Elas atraem os significados como sombras demoníacas. Pelas palavras puxas para cima o submundo.”

Carl Gustav Jung, O Livro Vermelho, p. 312. Editora Vozes

Platão: Por que o suicídio é proibido?

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Imagem: Suicídio de Judas, Gislebertus, 1120, Cathédrale de Saint-Lazare

 

Segundo o neoplatônico Olimpiodoro, o Jovem (Ὀλύμπιόδωρος ὁ Νεώτερος), o argumento de Platão contra o suicídio, retirado da mitologia órfica, é assim:

“O primeiro é o Céu, a quem Saturno atacou, cortando fora os genitais de seu pai; após Saturno, Júpiter sucedeu o governo do mundo, tendo lançado seu pai no Tártaro; após Júpiter, Baco veio à luz e, de acordo com o relato, graças aos estratagemas de Juno, foi rasgado em pedaços pelos Titãs, pelos quais foi cercado, e que depois provaram de sua carne: mas Júpiter, enfurecido por tal ato, lançou seus raios sobre os culpados, que os fez consumir até as cinzas.

Daí uma certa matéria, formada pelo vapor e pela fumaça, começou a subir dos corpos inflamados, e foi a partir disso que a humanidade surgiu. Portanto, é proibido cometer suicídio, não por causa que Platão parece dizer que estamos presos a um corpo, como se estivéssemos vigiados por um guarda, mas por que nosso corpo é Dionisíaco, ou seja, é propriedade de Baco, por isso somos compostos pelos vapores dos Titãs que comeram sua carne. Na Terra, nossa alma vive a vida dos Titãs.”

Por causa deste pensamento, Proclo ensina que nosso corpo é uma junção de partes retiradas de uma totalidade, sendo, portanto, mais propriedade desta totalidade do que nossa. Desta maneira, ao praticarmos o suicídio, estamos lançando uma imensa desordem ao universo.

Carl Jung afirma que “nossa vida não foi feita inteiramente por nós. Sua parte principal foi trazida à existência por fontes que estão ocultas para nós”. Jung, Letters Vol. 1, Pages 435-436.

Resenha: Prometeu e Epimeteu, de Carl Spitteler

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“Foi em sua juventude – a saúde estava queimando seu sangue e seus poderes cresciam dia a dia .

Então a arrogância de Prometeu falou completamente a Epimeteu, seu amigo e irmão:

Sejamos diferentes dos muitos que estão na multidão geral.

Pois, se seguirmos nosso costume no exemplo comum, seremos uma recompensa comum e nunca seremos bem-aventurados e profundos.”

Carl Spitteler, Prometheus und Epimetheus (tradução nossa a partir do original em alemão)

Es war in seiner Jugendzeit – Gesundheit rotete sein Blut und taglich wuchsen seine Krafte – .

Da sprach Prometheus Obermutes voll zu Epimetheus seinem Freund und Bruder:

Auf lass uns anders werden, als die Vielen, die da wimmein in dem allgemeinen HaufenI

Denn so wir nach gemeinem Beispiel richten unsern Brauch, so werden wir gemeinen Lohnes sein und werden nimmer sptiren adeliges Gluck und seelenvolle. [Read more…]

Resenha: O Amor e o Ocidente, de Denis de Rougemont

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Denis de Rougemont acreditava que o casamento vivia uma crise (no início do século XX) sem precedentes. Para ele, essa crise teria tido início séculos antes, e em seu livro O Amor e o Ocidente ele pretende apontar os culpados por ela.

Sua tese é sobre a antítese amor e paixão. O casamento, no Ocidente, teria funcionado relativamente bem ao menos até o século XII, pois até aquele momento estaria protegido sob as bênçãos do Ágape cristão. Para quem ler esta obra, essas minhas palavras não ficarão tão óbvias assim, pois o autor não nos explica como o casamento teria funcionado anteriormente. Temos a impressão que o auge desta instituição teria sido na Alta Idade Média, especificamente nos séculos VIII, IX e X, que reconhecidamente foi uma época de grande elevação moral, ao menos é que posso deduzir das ideias do autor. [Read more…]

Ethical Aspects of Human Enhancement

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To create new technologies and develop science to help society deal with some of our deficiencies like crime, or deviance of our personalities like psychopathy is a task that requires philosophy contribution. I will argue that are inconsistencies in a few authors that currently writes about these themes that compromises the results of these ideas. Although I’m personally an enthusiast of technology, a philosophical analyze must be made about the use of new robotic devices or medical techniques to enhance human beings and society. Thinkers that are originating new possibilities for the use of computing science should not only look for the future use of some of the wonderful that humanity might have, but also look back and reflect about philosophical difficulties that are intriguing. [Read more…]

Metaphysical considerations on animal ethics

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Μη τα πελωρια μετρα γαιης υπο σην φρενα βαλλου*

Ου γαρ αληθειης φυτον ενι χθονι

Direct not your attention to the immense measures of the earth; for the plant of truth is not in the Earth

 Πατηρ ου φοβον ενθρωσκει, πειθω δ επιχεει.

 The father did not hurl forth fear, but infused persuasion

The Chaldean Oracles

So many philosophers have contributed to enhance the study of animal ethics, but I will argue in this article that it does exist some questions that must be answered. The most important thing to me is that these thinkers don’t take on account the totality of things envolved, in another word, they ignore the whole world and the universe in which humans and animals live together. Without this, we hardly would get some answers why animal ethics does matter. [Read more…]

Sobre o gnosticismo de Paulo e o problema do Mal

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O que liberta é o conhecimento de quem nós fomos, e em quê nos tornamos; onde estávamos, e onde fomos lançados; para onde nós caminhamos, e de onde seremos redimidos; o que é o nascimento, e o que é renascer.”

Valentino (100-160)

 

Estas sábias palavras resumem bem o espírito gnóstico. Muito mais do que uma religião organizada, até porque suas origens são bastante confusas e dispersas, os gnósticos representam uma tentativa de responder ao mistério da existência do mal no mundo. Se a filosofia nasce do espanto, como diz Platão, pensar sobre o enorme sofrimento das criaturas que habitam este planeta não é algo menos importante. Os gnósticos souberam evitar a armadilha de alguns sofismas como negar a existência do mal, vendo-o como simples ausência de bem, ou de lançar a culpa de tudo de ruim que acontece no mundo nas costas do ser humano. Talvez o gnosticismo tenha nascido mais de uma intuição, de um sentimento de que alguma coisa estava, e está errada, no mundo. [Read more…]

Aspectos da ciência e da educação em Platão

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Os diálogos platônicos Protágoras, Sofista e Teeteto são referências fundamentais para compreendermos o modo como Platão entendia a ciência. Há milênios eles nos ensinam a melhor maneira de procuramos o avanço da ciência e do conhecimento, e nos servem de aviso sobre como não fazer ciência, uma vez que dois dos grandes obstáculos que o filósofo enfrenta são: uma “ciência” produzida por uma indução feita a partir dos dados dos sentidos, e o discurso, ou retórica, do sofista sobre o não-ser, que nada mais é do que uma aparência de sabedoria. [Read more…]

Carl Gustav Jung e o Problema do Mal no Livro de Jó

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Para realizarmos uma verdadeira investigação filosófica, ainda mais quando estamos diante do problema do Mal metafísico, precisamos estar preparados para as consequências que surgirão à nossa frente. Jung menciona essa preocupação durante sua brilhante e impactante obra Resposta a Jó. O tema do livro, ele sabe disso, já é suficiente para atrair a atenção de pessoas religiosas e/ou de teólogos, e como o filósofo René Guénon ensinava em uma das suas obras, a teologia envolve uma alta dose de emoção. De maneira alguma é fácil dialogar e debater com teólogos, e quando um autor inverte de certa maneira certas concepções que estavam arraigadas em nossa psique durante séculos, pode-se esperar respostas violentamente passionais. Pelo menos é o que Jung imaginava. [Read more…]