Sobre os tempos sombrios da política

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Imagem: Karl Briullov, os Vândalos saqueiam Roma no ano 455 da Era Cristã.

“As formas do bem-estar constitucional são a justiça e a temperança. A causa criativa é a vida contemplativa. O paradigma é o cosmos, desde que o estadista organiza tudo com seus olhos no universo, que é a plenitude com a ordem, pois Platão denominou o universo ‘organização’- e não ‘desorganização’. E hábitos e a educação são os instrumentos. O fim é o bem. E perceba que o bem é duplo, uma parte vinda conosco quando amadurecemos, e a outra quando declinamos. O primeiro é o bem constitucional, e o segundo é o bem contemplativo.”

Olimpiodoro, o Jovem Ὀλυμπιόδωρος ὁ Νεώτερος (495-570), Comentário ao Górgias, de Platão. Editora Brill, 1998 (tradução nossa a partir do inglês)

Olimpiodoro ensina que quem não quer sofrer injustiça deve ser um amigo da constituição em vigor, assimilando-se a ela e, portanto, perdendo sua alma. A constituição interna do homem justo é sempre superior à da constituição vigente.

“Platão diz que o universo é nossa cidade, e que seu governante é Deus. Assim sendo, nós devemos nos assimilar a Deus e ao Cosmos, e viver de acordo com aquela constituição, e não com esta.”

Olimpiodoro, o Jovem Ὀλυμπιόδωρος ὁ Νεώτερος (495-570), Comentário ao Górgias, de Platão. Editora Brill, 1998 (tradução nossa a partir do inglês) p.251

“Marinus, o biógrafo do filósofo neoplatônico Proclo, descreve a situação política dramática na qual viviam os últimos pagãos da Antiguidade:

“Não somente os cristãos são estranhos ao nosso mundo, mas também detêm o poder. Eles são os grandes abutres e os espíritos Tifônicos (Tifão é o monstro que rege os ventos) que subverteram a vida do Direito e da Lei.

Diante de um inimigo mais poderoso, era melhor não provocá-lo, assim dizia a teologia pagã.

Proclo fazia a seguinte reflexão: “podemos sofrer violência, mesmo que sejamos mais pios do que nossos adversários.”

Como remédio para aquele tempo de trevas, o filósofo Porfírio recomendava preservar a ordem racional intacta, praticar a catarsis intelectual, e evitar a todo custo a amathia (ignorância) dos sofistas (os cristãos).”

Niketas Siniossoglou, Radical Platonism in Byzantium: Illumination and Utopia in Gemistos Plethon (tradução nossa a partir do inglês)

Resenha: O Nome da Rosa, de Umberto Eco

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O século XIV representou uma época de revoluções no pensamento e na tecnologia. Os óculos, o relógio mecânico e o uso militar mais disseminado da pólvora são daquele período. Na filosofia, após séculos de debates sobre a questão dos Universais, o Nominalismo tornar-se-ia dominante. Muito do destino da ciência moderna foi estabelecido a partir das ideias de Guilherme de Ockham. O romance de Umberto Eco, O Nome da Rosa, é a grande referência literária sobre um século tão catastrófico e inovador. [Read more…]

Resenha: João Goulart- Uma Biografia, de Jorge Ferreira

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Com o país vivendo uma crise política e econômica sem precedentes, pois julgo que nem em 1964 o sistema político, a imprensa, o judiciário e a população como um todo desceram a um nível tão baixo, estudarmos a história política de alguns de nossos maiores líderes políticos do século XX foi revelador. Tanto a biografia de Getúlio Vargas escrita por Lira Neto quanto a de João Goulart, de autoria de Jorge Ferreira, revelaram incríveis semelhanças com o estado atual do Brasil. A crise política vivida por Goulart teve sua origem no período Vargas, e ele não soube como reverter o processo de radicalização alimentado pela Direita e por uma imprensa irresponsável; da mesma forma que o governo Dilma Rousseff foi incapaz de administrar um sentimento de revolta que vinha desde o início de seu governo. A diferença é que Goulart foi um político muito mais hábil e menos ingênuo que Dilma. [Read more…]

A História Cultural da Rússia segundo Orlando Figes

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Um país gigantesco, com mais de 1000 anos de história e uma incrível diversidade de etnias e culturas. A desafiadora tarefa de escrever uma história cultural sobre uma nação tão ampla e um período tão dilatado requer uma grande experiência e um domínio respeitável de conhecimento sobre as tradições da Rússia. Coube a Orlando Figes, historiador britânico e especialista em história russa, a missão de escrever um livro magnífico como é Natasha’s Dance- a Cultural History of Russia, obra que analisa a cultura russa desde o século X até o período soviético. [Read more…]

Resenha: Fenomenologia do Espírito, de G.W.F. Hegel

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A filosofia nasce do maravilhar-se, do espanto, e foi a partir destas capacidades que nasceram os grandes pensamentos de Tales de Mileto até Platão. Até aquele momento os filósofos buscavam inspirar os homens ao amor pela sabedoria. Eles expressavam seus pensamentos e permitiam que os mesmos percorressem livremente seu próprio caminho. Platão escreveu lindamente seus diálogos e toda sua obra foi preservada. Quando o lemos, nenhum tipo de sistema fechado pode ser detectado. Seus diálogos deixam várias questões em aberto e apresentam aporias ao leitor. Ele é poético, mas também quer ser científico; daí sua dialética que sobe em suas hipóteses até chegar aos Princípios, e dali desce. É um processo constante. [Read more…]

Resenha: Ciência Nova, de Giambattista Vico

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A Ciência Nova é um livro fantástico e otimista, no entanto é muito difícil de ler sem ter um grande conhecimento sobre filosofia, história e os mitos da Antiguidade. Resenhas sobre esse livro são poucas, portanto, creio que eu tenha uma relativa responsabilidade ao anunciar aos leitores desse artigo minhas impressões sobre o que li, e fazer ao mesmo tempo um breve resumo dessa obra.

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Júlio César, de William Shakespeare

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Uma das melhores obras de Shakespeare, Júlio César é a história de um grupo de conspiradores liderados por Cássio e Casca, que convencem um grande amigo de César, Bruto, a acompanhá-los em seu plano de assassinar o grande general romano.

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Resenha de A Montanha Mágica, de Thomas Mann

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Um Sonho do Humanismo

Thomas Mann escreveu, certamente, um livro magnífico, onde grande parte da mentalidade europeia do início do século XX encontra-se representada. Não é um livro de fácil leitura, tanto pela relativa lentidão em que os principais acontecimentos são narrados quanto pelos temas filosóficos que são mencionados. São esses últimos que mais me chamaram a atenção nesse livro.

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Resenha de O Presidente segundo o Sociólogo, uma entrevista com Fernando Henrique Cardoso

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O intelectual que mudou o país, Fernando Henrique Cardoso deu essa série de entrevistas a Roberto Pompeu de Toledo no final de 1997. Nesse livro, nosso ex-presidente fala sobre o Brasil-sua história e sociedade-, sobre sua família e questões que ainda hoje estão em debate no nosso país como a política sobre cotas, drogas e o tamanho do Estado. [Read more…]

Resenha de O Antigo Regime e a Revolução, de Tocqueville

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Tocqueville é um dos meus autores favoritos, porque é conservador e tem uma linguagem muito clara. Já li muito sobre a revolução francesa, mas ainda ficava a dúvida sobre o que a motivou e as características do antigo regime que ela pretendeu abolir e que, no entanto, sobreviram à revolta. Tocqueville responde a essas dúvidas em algumas palavras: o que a revolução pretendia abolir era o feudalismo por seu ódio à Idade Média. Essa era a questão principal, pois outros motivos foram secundários como a tentativa de centralizar o poder em Paris e a guerra contra a igreja católica.

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