Resenha de Origens do Totalitarismo, de Hannah Arendt

Origens do Totalitarismo

“If you have lost possession of a world,

Be not distressed, for it is nought;

And have you gained possession of a world,

Be not o’erjoyed, for it is nought.

Our pains, our gains all pass away;

Get beyond the world, for it is nought.”

Anwari Soheili

Adoro os livros de Hannah Arendt pelo seu jeito de escrever, suas análises filosóficas e a profundidade de seu pensamento. Origens do Totalitarismo é uma de suas obras mais conhecidas. Como eu já li sua obra Eichmann em Jerusalém, percebi que Arendt domina como poucos o tema do antissemitismo. É justamente por essa questão que ela começa o livro. Não esperem que ela vá descrever toda a história da perseguição aos judeus desde a Antiguidade, pois ela não faz isso. O antissemitismo religioso que vigorou até o começo do século XIX foi substituído a partir da segunda metade daquele século por um antissemitismo político. Arendt se concentra em alguns países como a França, a Inglaterra, a Alemanha e a Áustria para demonstrar a evolução do sentimento antijudaico.

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Resenha de Eichmann em Jerusalém, de Hannah Arendt

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A máquina burocrática do mal
A filósofa Hannah Arendt pôde acompanhar o julgamento de um dos mais famosos nazistas em Israel e analisa nessa obra o que viu e ouviu. Ela começa fazendo uma pequena biografia de Eichmann, e o descreve como um aluno medíocre em seus tempos de escola e que não conseguiu terminar os seus estudos, e estava destinado em um emprego sem perspectivas de futuro. Por causa disso, quando Eichmann teve a oportunidade de entrar para uma unidade da SS, ficou muito feliz. Primeiramente foi designado para reunir informações a respeito da maçonaria, mas o trabalho não foi adiante. Foi então mandado para a parte que cuidava dos assuntos judaicos. Passou então a estudar o sionismo e a manter contato com autoridades judaicas sionistas. Eichmann passou a admirar os sionistas porque os considerava idealistas, ao contrário dos assimilacionistas e dos judeus ortodoxos, a quem desprezava. Passou a trabalhar então no centro de emigração dos judeus austríacos, onde sentiu-se bem.

Foram pensadas algumas alternativas para a questão judaica, como a expulsão, a concentração e ,por fim, a solução final: assassinato. Eichmann nesse período assistiu à morte de alguns judeus na câmara de gás e por fuzilamento, mas nunca abandonou o seu posto. Arendt nota que o exército nazista nunca ameaçou de morte alguém que tivesse se recusado a participar de tais eventos, por causa disso, Eichmann não tinha como se desculpar. O programa de extermínio dos judeus havia sido inspirado pelo projeto de eutanásia de 1939, no qual cerca de 50 mil doentes mentais e outros inválidos haviam sido executados na câmara de gás. Na época, esse programa havia sido denunciado pelo arcebispo Von Galen. O programa foi então extinto, mas Von Galen infelizmente iria apoiar a invasão da Rússia pelos exércitos alemães, e isso iria custar a vida de 20 milhões de soviéticos.

Arendt escreve então sobre o pastor Heinrich Grüber, que foi convocado pelo tribunal e parecia ser uma grande testemunha para descrever a personalidade de Eichmann. O resultado foi decepcionante. A descrição do pastor Grüber sobre Eichmann foi errônea e mais, quando confrontado pelo tribunal se havia alertado o réu que suas atitudes( do réu) eram criminosas, disse que nunca o fez, porque considerava os atos como mais significativos do que as palavras. O próprio Eichmann negou que alguém em qualquer oportunidade tivesse dito para ele que o que ele fazia estava errado. Algumas páginas adiante, Eichmann disse que agia de acordo com a noção Kantiana de dever. Ou seja, aja como se sua vontade possa se tornar a lei universal. Arendt defende Kant, e o fato eram que Eichmann distorceu o argumento e considerou sempre que a vontade do Führer deveria ser a lei universal.

A história sobre o comportamento das diversas nações europeias e suas reações a ordem nazista de extraditar os judeus para os campos de extermínio revelam a grandeza de duas nações, segundo Arendt: a Dinamarca e a Itália. Nesses países a maioria da população judaica conseguiu sobreviver e seus governos opuseram-se às ordens de Berlim.

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A tragédia que se abateu sobre os judeus, e o fato de que pela primeira vez desde o tempo dos romanos os judeus poderem julgar eles próprios crimes contra seu povo, e a visão de que aquele julgamento serviria como base para que crimes como esse nunca mais acontecessem, tudo isso esteve presente no julgamento de Eichmann. Arendt percebeu que ele seria condenado à morte desde o princípio. A grande tarefa do tribunal era como mostrar ao réu suas responsabilidades e não permitir que ele se defendesse alegando ser apenas uma peça em uma complicada máquina burocrática, além de ser um cidadão que respeitava as hierarquias e ordens de seu governo. No fim, o mais importante é como definir responsabilidades individuais em crimes cometidos pelo Estado. Foi isso que esteve em julgamento em Jerusalém.