Os Gnósticos: o mundo deve ser salvo

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“A inteira corrupção será salva, pois vim a conhecer, enquanto pensava, que em todos os aspectos o mundo perceptível dos sentidos é digno de ser salvo inteiramente”

Marsanes, texto gnóstico Setiano

Platão: Por que o suicídio é proibido?

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Imagem: Suicídio de Judas, Gislebertus, 1120, Cathédrale de Saint-Lazare

 

Segundo o neoplatônico Olimpiodoro, o Jovem (Ὀλύμπιόδωρος ὁ Νεώτερος), o argumento de Platão contra o suicídio, retirado da mitologia órfica, é assim:

“O primeiro é o Céu, a quem Saturno atacou, cortando fora os genitais de seu pai; após Saturno, Júpiter sucedeu o governo do mundo, tendo lançado seu pai no Tártaro; após Júpiter, Baco veio à luz e, de acordo com o relato, graças aos estratagemas de Juno, foi rasgado em pedaços pelos Titãs, pelos quais foi cercado, e que depois provaram de sua carne: mas Júpiter, enfurecido por tal ato, lançou seus raios sobre os culpados, que os fez consumir até as cinzas.

Daí uma certa matéria, formada pelo vapor e pela fumaça, começou a subir dos corpos inflamados, e foi a partir disso que a humanidade surgiu. Portanto, é proibido cometer suicídio, não por causa que Platão parece dizer que estamos presos a um corpo, como se estivéssemos vigiados por um guarda, mas por que nosso corpo é Dionisíaco, ou seja, é propriedade de Baco, por isso somos compostos pelos vapores dos Titãs que comeram sua carne. Na Terra, nossa alma vive a vida dos Titãs.”

Por causa deste pensamento, Proclo ensina que nosso corpo é uma junção de partes retiradas de uma totalidade, sendo, portanto, mais propriedade desta totalidade do que nossa. Desta maneira, ao praticarmos o suicídio, estamos lançando uma imensa desordem ao universo.

Carl Jung afirma que “nossa vida não foi feita inteiramente por nós. Sua parte principal foi trazida à existência por fontes que estão ocultas para nós”. Jung, Letters Vol. 1, Pages 435-436.

Thomas Taylor: O rapto de Proserpina

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Imagem: Gian Lorenzo Bernini, O Rapto de Proserpina

“O rapto de Proserpina significa a descida da alma, como diz Olimpiodoro, e isso é confirmado pela autoridade do filósofo Salústio, pois o rapto, como na fábula, teve lugar no equinocial oposto, por causa disso a descida da alma à vida terrestre é implicada. Apuleio confirma que, como está representado nos Mistérios, ali está refletido a união da alma com a escura habitação do corpo.”

Thomas Taylor, The Mysteries of Eleusis and Bacchus

Sobre a origem da vida

 

“Como um terrível daimon, Métis, sustentando a honrada Sé dos Deuses, a quem os benditos no Olimpo estavam acostumados a chamar de Phanes, o Primogênito. Métis é um outro nome para Phanes, concebido como um magnífico ser alado, que possui tanto a genitália masculina quanto feminina, que acasala consigo mesmo, e faz nascer o ovo cósmico. Métis é a representação da ordem inteligível.” 

in Damáscio, Problèmes et Solutions touchant les Premiers Principes (ἀπορίαι καὶ λύσεις περὶ τῶν πρώτων ἀρχῶν) Paris: Ernest Leroux Éditeur, 1898.

“Equipado de corpo inteiro com a força de uma luz muito viva, e armado no intelecto e na alma com uma espada de três pontas, produz em sua inteligência o signo (Sÿnthëma) total da Tríade, e não utiliza os canais de fogo dispersamente, mas sim com concentração.”

“Dali brota a gênesis da matéria multifacetada; dali o turbilhão ígneo se lança violentamente e debilita a flor de fogo (Ánthos pyrós) e penetra todas as cavidades do mundo; porque desde aqui tudo começa a lançar para baixo raios admiráveis.”

Oráculos Caldeus

“Mas o organismo não é nada além da Vontade se tornando visível…as necessidades e os desejos daquela Vontade darão a cada fenômeno as regras para que os meios sejam empregados, e estes meios deverão harmonizar-se um com o outro.”

Arthur Schopenhauer, Sobre a Vontade na Natureza

“O verdadeiro filósofo não tem tempo a perder com bufões (pensadores ou cientistas) que, como Heráclito, pensam que tudo está em fluxo.”

Proclo Lício, o Sucessor, Comentário ao Crátilo

 

 

João Scotus Erígena: o início do mundo

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“No Princípio (ἐν ἀρχῇ) Deus criou o Céu e a Terra. E a Terra era invisível (ἀόρατος) e não estava preparada (ἀκατασκεύαστος).” Septuaginta, a versão grega do Antigo Testamento

“A unidade da Trindade por si e em si não é manifestada, pois a glória de sua infinitude escapa de maneira exímia de todo intelecto, mas os vestígios do conhecimento da sua imagem foram impressos: o Pai pela alma; o Filho pela razão; o Espírito Santo brilha mais fortemente nos sentidos. No Verbo de seu Filho Unigênito, ao mesmo, a primordialidade, causalidade, uniformidade e universalidade são criadas pelo Espírito Santo procedente do Filho (ex se filioque procedentem)…”

(João Scotus Erígena, De Divisione Naturae) Tradução nossa a partir do original em latim.

Quae unitas et trinitas in seipsa per seipsam non appareret quia omnen intellectum effugit eximia suae claritatis infinitate, nisi in sua imagine vestigia cognitionis suae imprimeret; Patris siquidem in animo, Filli in ratione, Sancti Spititus is sensu apertissima lucescit similitudo.

In Verbo suo in Unigenito Filio simul et semel, promordialiter, causaliter, uniformiter, universaliter condidit per Spiritum Sanctum ex se filioque procedentem…

Resenha: Prometeu e Epimeteu, de Carl Spitteler

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“Foi em sua juventude – a saúde estava queimando seu sangue e seus poderes cresciam dia a dia .

Então a arrogância de Prometeu falou completamente a Epimeteu, seu amigo e irmão:

Sejamos diferentes dos muitos que estão na multidão geral.

Pois, se seguirmos nosso costume no exemplo comum, seremos uma recompensa comum e nunca seremos bem-aventurados e profundos.”

Carl Spitteler, Prometheus und Epimetheus (tradução nossa a partir do original em alemão)

Es war in seiner Jugendzeit – Gesundheit rotete sein Blut und taglich wuchsen seine Krafte – .

Da sprach Prometheus Obermutes voll zu Epimetheus seinem Freund und Bruder:

Auf lass uns anders werden, als die Vielen, die da wimmein in dem allgemeinen HaufenI

Denn so wir nach gemeinem Beispiel richten unsern Brauch, so werden wir gemeinen Lohnes sein und werden nimmer sptiren adeliges Gluck und seelenvolle. [Read more…]

Ethical Aspects of Human Enhancement

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To create new technologies and develop science to help society deal with some of our deficiencies like crime, or deviance of our personalities like psychopathy is a task that requires philosophy contribution. I will argue that are inconsistencies in a few authors that currently writes about these themes that compromises the results of these ideas. Although I’m personally an enthusiast of technology, a philosophical analyze must be made about the use of new robotic devices or medical techniques to enhance human beings and society. Thinkers that are originating new possibilities for the use of computing science should not only look for the future use of some of the wonderful that humanity might have, but also look back and reflect about philosophical difficulties that are intriguing. [Read more…]

Resenha: Górgias, de Platão

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É dramática a posição de Sócrates diante dos sofistas e de um projeto de tirano à la Nietzsche (Cálicles) no diálogo platônico Górgias. Ali estão projetadas questões de extrema importância como o valor da retórica como ciência, da justiça, do estado de exceção e da incapacidade de o homem justo lutar, neste mundo, contra a opressão dos maus. Só resta a Sócrates apelar, no final do diálogo, para o julgamento do mundo dos mortos para que a justiça seja restabelecida. [Read more…]

A filosofia platônica de Gemisto Plethon

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Jorge Gemisto  Γεώργιος Γεμιστός (1355/1452), filósofo bizantino da Renascença, depois chamado de Plethon Πλήθων, em homenagem à sua imensa admiração por Platão, é uma grata surpresa na história da filosofia. Mesmo com o poderoso exército otomano diante dos portões de Constantinopla quis, nada mais nada menos, reviver a antiga religião grega e recusou o Cristianismo. Defendeu abertamente a superioridade da filosofia de Platão sobre a de Aristóteles e considerava que o Cristianismo era a principal causa da decadência do Império. [Read more…]

Sobre o gnosticismo de Paulo e o problema do Mal

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O que liberta é o conhecimento de quem nós fomos, e em quê nos tornamos; onde estávamos, e onde fomos lançados; para onde nós caminhamos, e de onde seremos redimidos; o que é o nascimento, e o que é renascer.”

Valentino (100-160)

 

Estas sábias palavras resumem bem o espírito gnóstico. Muito mais do que uma religião organizada, até porque suas origens são bastante confusas e dispersas, os gnósticos representam uma tentativa de responder ao mistério da existência do mal no mundo. Se a filosofia nasce do espanto, como diz Platão, pensar sobre o enorme sofrimento das criaturas que habitam este planeta não é algo menos importante. Os gnósticos souberam evitar a armadilha de alguns sofismas como negar a existência do mal, vendo-o como simples ausência de bem, ou de lançar a culpa de tudo de ruim que acontece no mundo nas costas do ser humano. Talvez o gnosticismo tenha nascido mais de uma intuição, de um sentimento de que alguma coisa estava, e está errada, no mundo. [Read more…]