A Filosofia de Ibn Sina ( Avicena)

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Médico e filósofo persa, Avicena foi de uma enorme influência na filosofia escolástica, sem falar na sua obra Canôn de Medicina, que foi durante séculos a base do ensino desse ciência no Ocidente.

A filosofia de Avicena caracteriza-se por tentar fazer uma síntese do pensamento de Platão com Aristóteles. Essa tentativa foi duramente criticada no século XII por Averróis. Vamos a alguns dos principais pontos da sua filosofia:

O universo, para Avicena, é constituído por três ordens: o mundo terrestre, cujo ponto mais alto é a alma humana; o mundo celeste, cujo ponto mais alto é o primeiro causado; e Deus, que é o cimo supremo.

Avicena explica o mundo à maneira de Aristóteles, pois sua filosofia repete as teorias do ato e potência, matéria e forma e as quatro causas. A diferença é que Avicena propõe uma tese original sobre a inteligência humana, que segundo o filósofo persa, estabelece a união entre o mundo material e o mundo celeste pelos seus cinco graus. Thonnard assim os resume:

A inteligência material, que é a faculdade antes de qualquer operação, e também é potência pura, mas na ordem intencional;

A inteligência possível, que é a faculdade que possui apenas os primeiros princípios intelectuais;

A inteligência em ato, que é o ato primeiro, ou faculdade disposta a agir, porque possui a ideia ( a espécie impressa) e a ciência em ato;

A inteligência adquirida, que conhece o ato segundo;

A faculdade intuitiva de ordem mística, chamada por Avicena de O Espírito Santo, porque une a alma a Deus. Essa faculdade também é conhecida como o Espírito de profecia que, segundo Gilson, era o lugar que Avicena reservou para o profeta Maomé.

Na sua filosofia, essas inteligências estão em potência, e para passarem ao ato, requerem a influência de um Intelecto Agente.

Avicena insiste que a nossa alma está separada do intelecto agente, sendo espiritual e imortal. A existência de Deus, para Avicena, é demonstrada pela noção de Ato puro e do primeiro motor de Aristóteles, de forma que para o filósofo persa, Deus é o único ser cuja essência é idêntica à existência. Avicena esforçou-se para conciliar a noção platônica de participação, a astronomia de Ptolomeu e o Deus aristotélico.

Mas Avicena negava uma crença fundamental da filosofia aristotélico-tomista, que é a união da alma e do corpo. Sua filosofia, segundo Gilson, está amarrada à noção de necessidade dos filósofos gregos, e essa doutrina teve que ser combatida pelos filósofos da escolástica. Avicena também nega o ato da criação, pois admitia que causas inferiores atuavam como instrumentos da causa primeira.

A doutrina da inteligência ativa e da inteligência passiva em Avicena causou um espanto entre os cristãos, como diz Gilson. No livro da Alma, Avicena diz que a alma é inteligente em potência, e só depois se torna inteligente em ato. Ele compara a iluminação do sol na nossa visão com a nossa faculdade intelectual, que vê os particulares que estão na imaginação e brilha sobre eles.

Bibliografia: F.J.Thonnard, Compêndio de História da Filosofia

Étienne Gilson, A Filosofia na Idade Média

Resenha do Livro da Alma, de Avicena

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Um ótimo exemplo da filosofia islâmica
O filósofo Ibn Sina, conhecido no ocidente pelo nome latinizado de Avicena, influenciou muitos teólogos cristãos como Santo Tomás de Aquino e Duns Scot. Nesse livro da Alma, Avicena descreve sua doutrina sobre a existência da alma e sua constituição. Para ele a alma é uma agregadora das faculdades da percepção, sendo uma para suas faculdades. A alma também é definida como aperfeiçoadora do corpo no qual ela habita, sendo também sua organizadora. Avicena escreve um exemplo das faculdades de percepção e a distinção entre a percepção da forma e a percepção da intenção. O exemplo é o da ovelha e do lobo, no qual a percepção que a ovelha tem do lobo, ou seja, de sua forma, percebem primeiro os seus sentidos externos antes do interno. A ovelha possui a percepção da intenção da adversidade do lobo e que é necessário fugir dele, sem que o sentido externo perceba isso. Assim, segundo Avicena, primeiramente o sentido externo percebe o lobo, e em seguida o sentido interno, caracterizando assim o nome de forma.É aquilo que as faculdades internas percebem sem os sentidos( externos), sendo por isso designado o nome de intenção.

Avicena também possui uma avançada ciência a respeito da luz e das cores, percebendo claramente que a luz das estrelas durante o dia não podem manifestar-se pela maior luminosidade do sol, sendo necessário que haja escuridão para que a luz das estrelas possam brilhar.Sua opinião sobre a natureza do raio, da luz e das cores vão influenciar os escolásticos Robert Grosseteste e Roger Bacon. Sobre a alma humana, Avicena estabelece cinco graus que são: a inteligência material, a inteligência possível, a inteligência em ato, a inteligência adquirida e, por fim, uma faculdade intuitiva, que Avicena chamará de intelecto sagrado. Essas inteligências existem em potência e para passarem para o ato, necessitam de um intelecto agente, que está separado e faz parte do mundo celeste.

É recomendável antes de ler esse livro da alma de Avicena, ler uma introdução à sua filosofia, como por exemplo, “A filosofia na idade média”, de Etienne Gilson, para poder compreender melhor a filosofia de Avicena, porque quem não está acostumado com a linguagem da filosofia medieval pode achar o livro muito difícil de entender.