Resenha da Ética a Nicômaco de Aristóteles

Etica a Nicomaco

Quando passei a me interessar por filosofia, esse foi um dos primeiros livros que li, junto com as confissões de Santo Agostinho. A Ética a Nicômaco é uma das bases da nossa civilização, e foi muito utilizada por São Tomás de Aquino na sua Suma Teológica.

Aristóteles tinha como objetivo ao elaborar a sua ética  formar o homem magnânimo, ou maduro ( Spoudaios). Esse homem que atingiu um nível em que permite que ele esteja acima das críticas e difamações do qual é alvo. O homem maduro é aquele que vive uma vida teórica, ou contemplativa ( Bios Theoretikos), da mesma forma que sabe usar seus bens para ajudar aos amigos, de maneira que seu dinheiro seja utilizado sem excesso, ao mesmo tempo em que evita-se a avareza. [Read more…]

Resenha: A integração do negro na sociedade de classes, de Florestan Fernandes

Floestan Fernandes capa

Um dos objetivos de A integração do negro na sociedade de classes é o de demolir o mito da “democracia racial” brasileira, e o autor, Florestan Fernandes analisou diversos dados referentes à população negra e mulata em São Paulo, especialmente na primeira metade do século XX. O que fica bem claro é que a Abolição da escravatura libertou os negros “oficialmente”, mas que na prática a discriminação e a submissão da população negra aos brancos continuaram na vida cotidiana. Ignorados pela República, que se preocupou mais em trazer milhares de imigrantes europeus com o indisfarçável objetivo de promover o branqueamento da população brasileira, os negros e os mulatos acabaram por ser preteridos pelos imigrantes no mercado de trabalho. Nunca houve por parte do governo ou da Igreja qualquer preocupação com os negros e esses ficaram esquecidos depois da escravidão, já que supostamente não serviam nem mais para trabalhar. Os negros tiveram que suportar subempregos por causa da discriminação da população branca, discriminação essa que Florestan Fernandes atribui à falta de ética de trabalho de uma parte da população negra.
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Resenha de Uma Teoria da Justiça, de John Rawls

Uma Teoria da Justiça

Conhecer a filosofia de John Rawls foi uma bela e ótima surpresa que eu tive. Como a filosofia política é uma das áreas que eu mais estudo, esse livro do filósofo americano traz uma nova reflexão sobre esse tema. A maneira como Rawls apresenta sua ideia de justiça é muito agradável de se ler, mas é preciso prestar atenção pois ele acrescenta termos novos durante os capítulos do livro.

Rawls é um contratualista na mesma tradição de Locke, Rousseau e Kant. No capítulo inicial chamado de Justiça como Equidade, Rawls apresenta a sua concepção de justiça e tenta diferenciá-la do utilitarismo de Bentham e Mill e também do intuicionismo. O filósofo americano define sua teoria como deontológica, na mesma tradição de Kant, o que é o oposto da tradição teleológica, que visa atingir um fim ou objetivo.

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Resenha: Édipo Rei, de Sófocles

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Édipo Rei é a peça que simboliza toda a beleza e a força do teatro grego da Antiguidade. Diversas interpretações dessa tragédia foram feitas, uma delas virou um dos símbolos da psicanálise, como o famoso Complexo de Édipo. Aristóteles em sua Poética considerou o personagem principal como uma representação do meio de produzir terror e compaixão. Édipo Rei pode ser analisado segundo as ideias de Aristóteles na Poética.

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Resenha: O Nome da Rosa, de Umberto Eco

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O século XIV representou uma época de revoluções no pensamento e na tecnologia. Os óculos, o relógio mecânico e o uso militar mais disseminado da pólvora são daquele período. Na filosofia, após séculos de debates sobre a questão dos Universais, o Nominalismo tornar-se-ia dominante. Muito do destino da ciência moderna foi estabelecido a partir das ideias de Guilherme de Ockham. O romance de Umberto Eco, O Nome da Rosa, é a grande referência literária sobre um século tão catastrófico e inovador. [Read more…]

Resenha das Confissões de Santo Agostinho

Confissões

“Tarde te amei…”

As confissões de Santo Agostinho foi o primeiro livro de filosofia que eu estudei mais profundamente, isso ainda na minha juventude, e esse fato me marcou profundamente. Essa autobiografia nos faz reviver e refletir sobre a vida de falsos caminhos e pecados de Agostinho. Seu desenvolvimento intelectual, a relação com seus amigos e com sua fantástica mãe- santa Mônica- podem nos servir como exemplo vida. É claro que alguns dos pensamentos de Santo Agostinho sobre sua vida pecadora são exagerados, como quando ele fala sobre seus maus pensamentos quando criança, sua sexualidade de jovem e a relação com uma mulher que ele não nomeia, parecem-nos ingênuos nos dias de hoje. É muito mais interessante a história de sua vida de estudante e sua adesão ao maniqueísmo.

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Resenha: A Cidade de Deus, de Santo Agostinho

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Santo Agostinho sempre foi considerado um teólogo de inspiração platônica mas, quando lemos sua obra principal, A Cidade de Deus, e a comparamos com a sobriedade das metafísicas de Plotino, Proclo, Jâmblico e Damáscio, vemos que o seu platonismo fica já obscurecido pela teologia bíblica. Agostinho dá um tom excessivamente bombástico e emocional ao seu texto, talvez porque misture a uma tentativa de filosofar teologia e história. Este caráter histórico de seu texto é um dos grandes pontos fracos do Cristianismo, e mesmo filósofos muçulmanos criticam este aspecto da religião cristã. Quando a filosofia é diminuída para dar espaço a uma religião que pretende ser histórica, e que vê seus antecessores como meros pretextos para seu aparecimento, a razão cede lugar para o emocional. [Read more…]

Resenha: O Príncipe, de Nicolau Maquiavel

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Um mestre da arte da política
Maquiavel oferece ao governante alguns conselhos como evitar grandes vícios, pois isso bastaria para não ser odiado, pelo menos parecer honesto. Na guerra quando conquistar não alterar as velhas leis e os impostos. Não se concentrar apenas nos distúrbios presentes, mas também nos futuros, pois isso é próprio do homem prudente.

Muito interessante e moderna a teoria de Maquiavel de que quem permite que o poder da igreja cresça tanto na esfera temporal não entende de questões do Estado. Ele conclui que quem cria o poder de outros se arruína. Vemos esse exemplo na Alemanha nazista onde Von Papen e o partido católico Zentrum, e a própria igreja católica fazendo a concordata com Hitler abriram o caminho para a ruína moral e espiritual da Alemanha.

Na Rússia os exemplos são Kamenev e Zinoviev, que se aliaram a Stalin contra Trotski, ajudando assim a Stalin a conseguir o poder absoluto, e acabaram fuzilados por ele. [Read more…]

Resenha: Precarious Japan, de Anne Allison

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A humanidade dispõe de uma grande biblioteca com títulos que explicam o fim das grandes civilizações da Antiguidade, e mesmo no século XX, Oswald Spengler escreveu sobre a decadência do Ocidente. Mas como seria um livro sobre a progressiva perda de esperança e uma drástica queda da natalidade de uma nação contemporânea? Anne Allison, uma professora de antropologia cultural estadunidense, revela em seu livro Precarious Japan um cenário dramático para este país, que já foi uma potência militar agressiva, e que até duas décadas atrás era uma potência industrial em expansão. [Read more…]

Resenha: Prometeu e Epimeteu, de Carl Spitteler

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“Foi em sua juventude – a saúde estava queimando seu sangue e seus poderes cresciam dia a dia .

Então a arrogância de Prometeu falou completamente a Epimeteu, seu amigo e irmão:

Sejamos diferentes dos muitos que estão na multidão geral.

Pois, se seguirmos nosso costume no exemplo comum, seremos uma recompensa comum e nunca seremos bem-aventurados e profundos.”

Carl Spitteler, Prometheus und Epimetheus (tradução nossa a partir do original em alemão)

Es war in seiner Jugendzeit – Gesundheit rotete sein Blut und taglich wuchsen seine Krafte – .

Da sprach Prometheus Obermutes voll zu Epimetheus seinem Freund und Bruder:

Auf lass uns anders werden, als die Vielen, die da wimmein in dem allgemeinen HaufenI

Denn so wir nach gemeinem Beispiel richten unsern Brauch, so werden wir gemeinen Lohnes sein und werden nimmer sptiren adeliges Gluck und seelenvolle. [Read more…]