Algumas opiniões de Lutero sobre Aristóteles

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Aristoteles male reprehendit ac ridet Platonicarum idearum meliorem sua philosophiam.

“Aristóteles refuta muito mal as Ideias platônicas, que são melhores do que sua filosofia.”

Cui per omnia contrarius Aristoteles ridet illa separata et intelligibilia et trahit ad sensilia et singularia penitusque humana et naturalia. Verum id facit astutissime: Primo, quia non potest negare illa individua esse fluxa, finxit aliud formam, aliud materiam, et ita res ut materia non est scibilis, sed ut forma. Ideo dicit formam esse causam sciendi, et hanc vocat “divinum, bonum, appetibile” et huic intellectum tribuit. Et sic eludit omnium mentes, dum eandem rem dupliciter considerat.

“Sendo em tudo contrário às Ideias, Aristóteles ridiculariza as coisas inteligíveis e separadas e as coloca nas coisas sensíveis e separadas, completamente humanas e naturais. Mas ele faz isso muito astutamente.

Primeiro, porque ele não pode negar que o individual está em fluxo, ele inventa uma forma e uma matéria diferente, então a coisa não é conhecida como matéria, mas sim como forma. Portanto, assim ele diz que a forma é a causa do conhecimento, e a isso ele denomina “divino, bom e desejável”, e ele atribui ao intelecto. Então ele frustra toda mente, pois examina a mesma coisa duas vezes.”

Martinho Lutero, Probationes (tradução nossa a partir do original em latim)

“Na vigésima oitava prova da tese da disputa de Heidelberger, Lutero delineia um argumento contra um teorema aristotélico fundamental. Em contraste com a crítica de Lutero à compreensão aristotélica da virtude da justiça, ainda não ganhou ainda a atenção devida. Embora a objeção de Lutero tenha sido percebida e parafraseada, mas não de maneira sistemática, a intenção é examinar a consideração de Lutero, pois Aristóteles, em sua doutrina psicológica, descreve a estrutura ôntica do pecador, que busca suas próprias coisas em tudo. Mas o fato do pecador ser pensado como um homem autoritário está em contradição com a Teologia.”

“A segunda parte, está claro, é toda do filósofo e do teólogo, pois o objeto é a causa do amor, colocando Aristóteles toda a potência da alma passiva para receber o material, e demonstra que a filosofia é contrária à teologia, enquanto em todas as coisas pede aquelas que são suas, e aceita mais do que o bem que contribuiu. “ Lutero

Theodor Dieter, Der junge Luther und Aristoteles (Tradução nossa a partir do original em Alemão/Latim)

“Parece que aquele que deseja coletar todas as coisas de uma só vez está apenas adquirindo para si mesmo o desespero com grandes lamentos, pois ficará cheio de desespero se espera que Deus vai fazer chover boas coisas para ele neste presente momento, mas não depois. E tornar-se-á cheio de infidelidade se não acredita que a Graça Divina não irá, agora e em todos os tempos, cair sobre aqueles que são dignos dela; e será um tolo se pensa que será um guardião competente aquele que coleciona coisas contrárias à vontade de Deus…”

Fílon de Alexandria, The Allegories of the Sacred Laws, after the work of the six days of the Creation (tradução nossa a partir do inglês)

A Lua do seu amor

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A Lua do seu amor

“Não há uma única alma

Que não possua um caminho para você.

Não há pedra,

Nem flor-

Nem um único pedaço de palha-

Que não tenha sua existência.

Em toda partícula do mundo,

A Lua de seu amor

Faz com que o coração

De cada átomo resplandeça.”

THE MOON OF YOUR LOVE

Not a single soul lacks 
a pathway to you.

There’s no stone, 
no flower— 
not a single piece of straw— 
lacking your existence.

In every particle of the world, 
the moon of your love 
causes the heart 
of each atom to glow.

Muhammad Shirin Maghribi, Iran/Persia (1349 – 1408)

Tradução nossa a partir do livro Love’s Alchemy: Poems from the Sufi tradition 

 

Sêneca: como podes pensar que isto não possa acontecer novamente?


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Non putaui futurum. Quicquam tu putas non futurum quod [multis] scis posse fieri, quod multis uides euenisse? Egregium uersum et dignum qui non e pulpito exiret:cuiuis potest accidere quod cuiquam potest!

Não pensava que isto pudesse acontecer! Como podes pensar que algo não possa acontecer quando você sabe que acontece com muitos homens e que já aconteceu com muitos?

Este é um nobre verso e digno de uma mais nobre fonte do que o palco:

“o que um já sofreu pode cair sobre todos nós!”

Sêneca, de Consolatione Ad Marciam (tradução nossa a partir do latim)

Carl Gustav Jung: nunca puxe para cima o submundo do Hades

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Pense sempre muito antes de falar. Evite contaminar seu vocabulário com “palavras de poder”.

“Existem tramas infernais de palavras, somente palavras, mas o que são palavras? Sê cauteloso com palavras, escolhe-as bem, toma palavras precisas, palavras sem armadilhas, não as entrelaces para que não surja nenhuma trama, pois tu és o primeiro que nela se enreda. Pois palavras têm significados. Nas palavras puxas para cima o submundo.” 

Pois palavras não são meras palavras, mas têm significados para quem foram compostas. Elas atraem os significados como sombras demoníacas. Pelas palavras puxas para cima o submundo.”

Carl Gustav Jung, O Livro Vermelho, p. 312. Editora Vozes

Os Gnósticos: o mundo deve ser salvo

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“A inteira corrupção será salva, pois vim a conhecer, enquanto pensava, que em todos os aspectos o mundo perceptível dos sentidos é digno de ser salvo inteiramente”

Marsanes, texto gnóstico Setiano

Platão: Por que o suicídio é proibido?

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Imagem: Suicídio de Judas, Gislebertus, 1120, Cathédrale de Saint-Lazare

 

Segundo o neoplatônico Olimpiodoro, o Jovem (Ὀλύμπιόδωρος ὁ Νεώτερος), o argumento de Platão contra o suicídio, retirado da mitologia órfica, é assim:

“O primeiro é o Céu, a quem Saturno atacou, cortando fora os genitais de seu pai; após Saturno, Júpiter sucedeu o governo do mundo, tendo lançado seu pai no Tártaro; após Júpiter, Baco veio à luz e, de acordo com o relato, graças aos estratagemas de Juno, foi rasgado em pedaços pelos Titãs, pelos quais foi cercado, e que depois provaram de sua carne: mas Júpiter, enfurecido por tal ato, lançou seus raios sobre os culpados, que os fez consumir até as cinzas.

Daí uma certa matéria, formada pelo vapor e pela fumaça, começou a subir dos corpos inflamados, e foi a partir disso que a humanidade surgiu. Portanto, é proibido cometer suicídio, não por causa que Platão parece dizer que estamos presos a um corpo, como se estivéssemos vigiados por um guarda, mas por que nosso corpo é Dionisíaco, ou seja, é propriedade de Baco, por isso somos compostos pelos vapores dos Titãs que comeram sua carne. Na Terra, nossa alma vive a vida dos Titãs.”

Por causa deste pensamento, Proclo ensina que nosso corpo é uma junção de partes retiradas de uma totalidade, sendo, portanto, mais propriedade desta totalidade do que nossa. Desta maneira, ao praticarmos o suicídio, estamos lançando uma imensa desordem ao universo.

Carl Jung afirma que “nossa vida não foi feita inteiramente por nós. Sua parte principal foi trazida à existência por fontes que estão ocultas para nós”. Jung, Letters Vol. 1, Pages 435-436.

Thomas Taylor: O rapto de Proserpina

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Imagem: Gian Lorenzo Bernini, O Rapto de Proserpina

“O rapto de Proserpina significa a descida da alma, como diz Olimpiodoro, e isso é confirmado pela autoridade do filósofo Salústio, pois o rapto, como na fábula, teve lugar no equinocial oposto, por causa disso a descida da alma à vida terrestre é implicada. Apuleio confirma que, como está representado nos Mistérios, ali está refletido a união da alma com a escura habitação do corpo.”

Thomas Taylor, The Mysteries of Eleusis and Bacchus

Sobre a origem da vida

 

“Como um terrível daimon, Métis, sustentando a honrada Sé dos Deuses, a quem os benditos no Olimpo estavam acostumados a chamar de Phanes, o Primogênito. Métis é um outro nome para Phanes, concebido como um magnífico ser alado, que possui tanto a genitália masculina quanto feminina, que acasala consigo mesmo, e faz nascer o ovo cósmico. Métis é a representação da ordem inteligível.” 

in Damáscio, Problèmes et Solutions touchant les Premiers Principes (ἀπορίαι καὶ λύσεις περὶ τῶν πρώτων ἀρχῶν) Paris: Ernest Leroux Éditeur, 1898.

“Equipado de corpo inteiro com a força de uma luz muito viva, e armado no intelecto e na alma com uma espada de três pontas, produz em sua inteligência o signo (Sÿnthëma) total da Tríade, e não utiliza os canais de fogo dispersamente, mas sim com concentração.”

“Dali brota a gênesis da matéria multifacetada; dali o turbilhão ígneo se lança violentamente e debilita a flor de fogo (Ánthos pyrós) e penetra todas as cavidades do mundo; porque desde aqui tudo começa a lançar para baixo raios admiráveis.”

Oráculos Caldeus

“Mas o organismo não é nada além da Vontade se tornando visível…as necessidades e os desejos daquela Vontade darão a cada fenômeno as regras para que os meios sejam empregados, e estes meios deverão harmonizar-se um com o outro.”

Arthur Schopenhauer, Sobre a Vontade na Natureza

“O verdadeiro filósofo não tem tempo a perder com bufões (pensadores ou cientistas) que, como Heráclito, pensam que tudo está em fluxo.”

Proclo Lício, o Sucessor, Comentário ao Crátilo

 

 

João Scotus Erígena: o início do mundo

Primitive-Earth

 

“No Princípio (ἐν ἀρχῇ) Deus criou o Céu e a Terra. E a Terra era invisível (ἀόρατος) e não estava preparada (ἀκατασκεύαστος).” Septuaginta, a versão grega do Antigo Testamento

“A unidade da Trindade por si e em si não é manifestada, pois a glória de sua infinitude escapa de maneira exímia de todo intelecto, mas os vestígios do conhecimento da sua imagem foram impressos: o Pai pela alma; o Filho pela razão; o Espírito Santo brilha mais fortemente nos sentidos. No Verbo de seu Filho Unigênito, ao mesmo, a primordialidade, causalidade, uniformidade e universalidade são criadas pelo Espírito Santo procedente do Filho (ex se filioque procedentem)…”

(João Scotus Erígena, De Divisione Naturae) Tradução nossa a partir do original em latim.

Quae unitas et trinitas in seipsa per seipsam non appareret quia omnen intellectum effugit eximia suae claritatis infinitate, nisi in sua imagine vestigia cognitionis suae imprimeret; Patris siquidem in animo, Filli in ratione, Sancti Spititus is sensu apertissima lucescit similitudo.

In Verbo suo in Unigenito Filio simul et semel, promordialiter, causaliter, uniformiter, universaliter condidit per Spiritum Sanctum ex se filioque procedentem…

Safo de Lesbos: o primeiro beijo

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Marc Gabriel Charles Gleyre, Le Coucher de Sappho

 

O primeiro beijo

Coloquei abaixo a almofada
No sofá que ela,
Relaxada e inerte, estava.
Poderia oferecer seus lábios a mim.

Como uma sacerdotisa apaixonada,
No santuário de Afrodite,
Fascinada eu me inclinei acima dela
Com o senso do Divino.

Ela tinha, por sua natureza núbil,
Em anos ainda uma criança,
Nenhuma sugestão
De qualquer conhecimento secreto,
De nenhum pensamento de paixão.

Sua boca para a imolação
Estava preparada, e minha é a arte.
E um longo beijo de paixão
Deflorou seu coração virgem.

Tradução nossa a partir da versão em inglês do Delphi Complete Works of Sappho