Se Platão e Kant já haviam defendido a existência de um conhecimento a priori, Schopenhauer acredita que deu uma grande ( e a melhor ) contribuição para o chamado Princípio de Razão Suficiente. Com sua linguagem clara e de uma beleza só superada pela de Platão, Schopenhauer rejeita as filosofias de Hegel,Schelling e Fitche, e considera que ele é o continuador da tradição kantiana. O conhecimento deve ter razões a priori, e cabe ao filósofo descobrir os porquês, e a esse processo Schopenhauer chama de a origem de toda a ciência. O filósofo escolhe a fórmula de Christian Wolff de que nada existe sem uma razão para ser como a melhor definição para o princípio que pretende explicar. Essa definição é adequada a uma fórmula a priori. Platão no Timeu já havia dito que nada surge do nada e que tudo tem uma causa. Schopenhauer também cita Aristóteles, que nos Analíticos Posteriores havia dito que provar que uma coisa existe é muito diferente de demonstrar por que ela existe. Schopenhauer passa para uma análise dos filósofos modernos começando por Descartes, a quem ele critica por não diferenciar razão e causa. A prova ontológica de Descartes, faz tudo depender de uma causa “in conceptu entis summe perfecti existentia necessaria continetur” e faz a filosofia servir a maior glória de Deus, como diz o filósofo alemão. Schopenhauer rejeita qualquer pretensão da teologia para provar a existência de Deus e cita Aristóteles que dizia : “existência nunca pode pertencer à essência de uma coisa.” A prova ontológica teve amplificações monstruosas nas filosofias de Schelling e Hegel, segundo o filósofo. Para ele, até mesmo Spinoza tende a adotar a prova ontológica só que não para provar a existência de Deus, mas a do mundo, uma vez que este não precisa de Deus. Hume foi o filósofo que acreditou que o princípio de razão suficiente era uma verdade eterna. Hume define a causalidade como nada além da sucessão empiricamente observada de coisas e estados no Tempo, que o hábito nos fez familiares. Schopenhauer crê que esse foi o ponto de partida de Kant, que o levou ao Idealismo Transcendental. Os princípios transcendentais nos são dados a priori segundo Schopenhauer e nos dão o conhecimento sem a necessidade de experiência. Para ele, procurar uma prova do princípio de razão suficiente é um absurdo. Objeto e sujeito e a nossa representação são as mesmas coisas. Segundo ele, nossas representações são determinadas a priori e nada separado pode se tornar um objeto para nós.Schopenhauer divide em quatro classes os objetos que podem se tornar representações para nós. A primeira classe ( vir-a-ser) é a de objetos empíricos, completos e intuitivos. Eles são intuitivos pois não são apenas pensamentos; são completos porque contêm não somente a parte formal , mas também a material do fenômeno; por fim são empíricos porque não são uma mera conexão de pensamentos, mas produzem excitação no organismo. As formas dessas representações são o Tempo e o Espaço. A prova Cosmológica é declarada nula pelo princípio do vir-a-ser. O princípio do vir-a-ser pressupõe sempre a ideia de mudança e, segundo Schopenhauer, a causa sempre precede o efeito no Tempo. A segunda é a do conhecer. Ele rejeita o conhecimento que vem apenas pelos cinco sentidos. Os órgãos corporais não transmitem conhecimentos objetivos. Schopenhauer acredita que somente quando o entendimento começa a agir, a sensação subjetiva começa a se tornar uma percepção objetiva. O entendimento é totalmente apriorístico. Ele não nega o entendimento nem mesmo aos animais completamente de acordo com sua filosofia geral. A terceira classe é a do Ser, que é as divisões de Espaço e do Tempo que determinam uma à outra reciprocamente com referência a essas relações ( posição e sucessão ), diz Schopenhauer. O Ser está no tempo pelas provas aritméticas e geométricas. Schopenhauer usa como exemplos os axiomas de Euclides. O filósofo oferece este exemplo: Euclides escreve nos Elementos que se dois ângulos de um triângulo são iguais , os lados que subentendem, ou que são opostos, os ângulos iguais deverão ser iguais uns aos outros. Ora, de acordo com Schopenhauer, nesta demonstração nós temos a razão para a verdade da proposição. Essa nos é dada pela razão do Ser de maneira intuitiva e não admite outra demonstração. Ou seja, duas linhas desenhadas em extremos opostos terminam em outra linha e inclinando igualmente até a outra, só podem se encontrar em um ponto que está igualmente distante de ambas as extremidades. Os dois ângulos que surgem são propriamente um só, mas dão a aparência de serem dois. A quarta classe é a da Vontade. O sujeito, segundo o filósofo, conhece a si mesmo pela vontade e não pelo conhecimento. Não há conhecimento sem conhecer, diz o filósofo. Ser um objeto é ser conhecido pelo Sujeito. A Vontade está acima do intelecto para Schopenhauer. A conclusão é que o Princípio da Razão Suficiente é o princípio de toda a explicação. Ele está presente em todas as ciências. Schopenhauer cita Platão que dizia “que o mundo que sempre aparece e perece, mas de fato nunca existe” deve ser desprezado por nós. A conclusão de Schopenhauer é que tudo existe por uma razão. O idealismo é a filosofia defendida por Schopenhauer, que ele acredita que é o âmago da filosofia do oriente, que só é rejeitada no ocidente por causa da influência do realismo bíblico ( via Judaísmo ) . Toda e qualquer prova da existência de Deus é declarada impossível por Schopenhauer, pois ele demonstra que ninguém além dos judeus chegou à conclusão que existe um Deus único. Ele acreditava que a filosofia jamais deveria estar subordinada à teologia e criticava duramente os “filósofos do Estado”, que defendiam as provas da existência de Deus sem levar em conta a Crítica de Kant. Essa obra A Quádrupla Raiz do Princípio da Razão Suficiente foi tese de doutorado do filósofo alemão. É uma das obras de filosofia que eu mais gosto. Toda a prova de um conhecimento a priori é demonstrada por Schopenhauer, que leva a filosofia kantiana a um novo nível.