O Princípio de Individuação em Duns Scotus

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O princípio de individuação em Duns Scotus é um dos pontos mais altos de sua filosofia, no qual ele refuta a opinião de São Tomás de Aquino. Segundo Bertrand Russell, o princípio de individuação é o que faz uma coisa ser diferente de outra, e Duns Scotus afirmava que ele deveria se realizar pela forma, e não pela matéria. A questão que surge é se a essência de um homem é a mesma em outro homem. Russell afirma que São Tomás acreditava que substâncias materiais têm a mesma essência e as espirituais possuem essências diferentes. Já Duns Scotus afirma que sempre existe diferença na essência material de um ser humano para outro. Russell diz que São Tomás afirma que a matéria consiste em partes indiferenciadas, que são distintas apenas pela diferença da posição no espaço, dessa forma uma pessoa se diferencia da outra apenas pela posição física de seu corpo. Duns Scotus por sua vez que as coisas são distintas por diferenças qualitativas. Russell diz que a visão de Duns Scotus aproxima-se da platônica.

São Tomás escreveu o seguinte sobre a individuação: ” Desde que o composto no gênero da substância existem três coisas (matéria, forma e o composto), em cada uma dessas três coisas as causas de sua diversidade deve ser encontrada. Deve ser evidente que a diversidade do gênero é reduzida à diversidade da matéria; mas a diversidade de acordo com as espécies é reduzida à diversidade da forma; assim a diversidade de acordo com o número deve-se parcialmente à diversidade da matéria e parcialmente à diversidade acidental.” ¹

¹In Boeth. De Trin.
Q4, A2.

Seguindo a argumentação do Doutor Sutil (Ordinatio 2 d. 3 p. 1 qq. 5–6), ele começa perguntando se  a substância material é essa coisa e individualizada através da matéria. Aristóteles aparentemente acreditava nisso pois afirma que “aquelas coisas são numericamente unas cuja matéria é uma.” Met. 5.6 [1016b32–33]

Duns Scotus afirma que talvez a matéria esteja fora da quididade e de qualquer coisa que possua primariamente a quididade. Ele diz que a “matéria seria uma parte do indivíduo e a individuação como um todo”. Ele defende “que a matéria pertence à essênciade uma substância composta ( o homem) e o composto não é precisamente tal pela essência da forma.” O composto não pode ser essa coisa, nem a matéria. A mesma matéria, diz Duns Scotus, é a mesma que é gerada e corrompida e possui a mesma singularidade.

Isso leva à afirmação de que a substância material é individual  através de ser positivamente per se. A unidade, segundo Duns Scotus , é per se sobre o ente em geral. Os indivíduos são “ diversos seres que são algo semelhantes. O que os diferencia não são negações nem acidentes. O primeiro fator será um ente positivo que per se determine a natureza, segundo Scotus.

Se São Tomás acredita que a matéria, ou comparação com esta, cria o princípio de individuação, que não é derivado da forma, Duns Scotus crê que que cada indivíduo possui qualidades que o tornam uma coisa diferente da outra. Ele dá o nome de haecceitas, ou essa coisa, para este conceito. Dessa maneira, Felipe teria a forma Felipense diferente de João, que teria a Joanense.

Quanto ao gênero ser individualizado pela matéria, Duns Scotus nega isso porque a matéria não pode ser esta coisa ( haecceitas). Ele diz que “ser dividido naquilo que é essencialmente diverso nas espécies ou na natureza é incompatível  com o todo no qual a entidade específica é uma parte per se”. Ser dividido em qualquer parte subjetiva seja ela qual for é incompatível com a entidade individual, de acordo com Duns Scotus. A haecceitas é indivisível porque a unidade é esta coisa e o indivíduo não é comparável e é designado como sendo essa coisa por sua singularidade.Por fim, Scotus afirma que “qualquer coisa que é comum e determinável ainda pode ser distinguível  de outras coisas, de maneira que podemos dizer que ela é esta e não aquela coisa”.

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