Resenha: Questões disputadas sobre a alma, de São Tomás de Aquino

Questões disputadas sobre a alma

Esta presente obra de São Tomás de Aquino trata ,como diz o título, da  alma. Li e achei esse um dos piores livros de São Tomás. Fiel ao extremo à filosofia de Aristóteles, São Tomás faz afirmações absurdas e cruéis, como afirmar que a alma dos animais não são eternas. Platão por sua vez acreditava que todos os animais possuíam uma imagem da alma e um poder gnóstico de fantasia, memória e  sentido. Tomás de Aquino cai em dificuldades como definir a existência da alma sem o corpo já que para ele ambas estão unidas de maneira tão intensa. Isso vai gerar a ênfase excessiva do papel dos sentidos no conhecimento humano, o que a filosofia platônica sempre evitou, pois esta nos ensinou através de Proclo ( Teologia de Platão), que ” a  teoria intelectual apreende inteligíveis e as formas que são capazes de serem conhecidas pela alma através da energia projetada pelo intelecto; mas a ciência teológica que transcende a isso é familiarizada com misteriosas e inefáveis Hyparxis . Porque nós possuímos muitos poderes gnósticos e através desses somente nós somos capazes de  ser e participar na união oculta do intelecto e da Hyparxis que estão unidas nos seres e através desses  na união oculta de todas as unidades divinas.” Para Proclo, através dos sentidos nós não podemos conhecer o gênero dos deuses; além disso, ” todas as coisas similares só podem ser conhecidas pelo similar. O sensível pelo sensível; o doxástico pela opinião; o dianoético pela dianoia e o inteligível pelo intelecto. Portanto o inefável só pode ser conhecido pelo inefável.” São Tomás nega todo o tipo de conhecimento a priori pela alma, o que é um erro, pois o ser humano possui conhecimentos que não derivam da experiência. O amor ao próximo, que segundo Santo Agostinho é a base da sociedade, é inato no ser humano , e não é derivado da experiência. Quando a mãe ama o seu filho, isso já está gravado em sua alma, e esse amor não surge através dos meses ou dos anos, o que provavelmente levaria à destruição da raça humana se esse amor só surgisse com o passar dos anos. O amor ao próximo é inato desde o nascimento. Vejam esta notícia aqui sobre o nascimento dessas gêmeas com as mãos dadas. Isso é mais uma prova de que o amor entre os seres humanos não nasce da experiência, mas já vem gravado em nossas almas. Outro problema que surge dessa rejeição aos argumentos a priori por parte de São Tomás é em relação às provas da existência de Deus. Na minha opinião, a existência de Deus  pode ser provada a priori, e também a posteriori de acordo com o método de São Tomás. Provar a existência de Deus somente pelos sentidos encerra um grave problema. Por exemplo: antes do homem e de toda a matéria, Deus não existia? De acordo com Santo Agostinho, a verdade eterna de que Deus existe independe do homem existir ou não, da matéria existir ou não. O amor ao próximo e a existência do bem são verdades eternas que provam a existência de Deus, e é apenas dessa maneira a priori que Sua existência pode ser provada. Kant também acreditava nisso em parte, porque para ele o ser humano tem que existir para que essas verdades se confirmem, o que as torna imanentes. Se os efeitos da criação divina fossem uma prova, ela seria evidente para todos, o que não é verdade. Segundo Bertrand Russell, se a ordem requer explicação, como explicar a desordem? No início do universo havia somente o caos e a desordem, e ninguém poderia sugerir que aquilo provaria a existência de Deus.A reprodução da biologia e da cosmologia caduca de Aristóteles torna o livro em alguns momentos extremamente difícil de se ler. Comparado com o conhecimento matemático da filosofia neoplatônica, os conhecimentos “científicos” exibidos por São Tomás são paupérrimos, vide sua frequente alusão às figuras do fogo e da pedra. O último capítulo do livro é horrível, pois exibe o que de  pior havia nas fantasias medievais sobre o inferno, tornando as argumentações de São Tomás inteiramente sofísticas. O que percebemos em São Tomás é o seu completo desconhecimento da filosofia platônica, e a sua  insistência irritante em criticar o filósofo ateniense através dos comentários de Aristóteles.

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