Estudei muitas matérias de psicologia na faculdade, mesmo assim não creio que estou qualificado para fazer uma análise mais profunda da obra de Jung devido à sua complexidade. Tipos psicológicos foi o primeiro livro que li do psiquiatra suíço. A tese de Jung é sobre dois tipos de personalidade: a extrovertida e a introvertida. No começo do livro ele faz uma comparação entre esses dois tipos de personalidade fazendo um estudo sobre a vida de alguns personagens históricos. Somente no capítulo X, ou seja, no final do livro, é que Jung divide as personalidades extrovertida e introvertida em alguns subgrupos. Ali é que ele escreve sobre suas concepções da psique humana em seus próprios termos. Antes de finalizar esse livro, Jung escreveu uma espécie de dicionário esclarecendo diversos termos de psicologia para quem quiser melhor compreender seu pensamento. Isso é muito útil para quem é novo nessa ciência.
Achei a parte puramente filosófica mais interessante do que a parte psicológica da segunda metade do livro. Nela, Jung expressa suas opiniões sobre temas como o debate medieval sobre a questão dos universais, que levou a um confronto entre nominalistas e realistas. O que percebi é que Jung não compreendia ( e não tinha simpatia) por uma filosofia e teologia que fossem ortodoxas. Ele claramente está do lado daqueles que foram rejeitados pela Igreja como Orígenes, Abelardo, Mestre Eckhart, etc. Jung seleciona esses personagens históricos e os define segundo seus critérios como extrovertidos ou introvertidos. A respeito dessas classificações, elas não parecem ter a mesma importância que o capítulo X. Esse último acaba por definir entre introvertidos e extrovertidos homens e mulheres do mundo moderno em um sentido geral. Jung tem predileção por elementos gnósticos e fantasiosos ( irracionais) do pensamento de Mestre Eckhart, do Hinduísmo e de Nietzsche. É claro que a psicologia de Jung valoriza muito, eu creio, a fantasia e a gnose; no entanto, para quem está acostumado com os termos racionais da filosofia, isso pode parecer estranho. A psicanálise freudiana é vista por Jung como uma forma de repressão ao elemento fantasioso e de supervalorização da sexualidade. Existe uma passagem no Fausto de Goethe que Jung cita e que pode exprimir o que ele pensa. Fausto diz: ” o sentimento é tudo”. O elemento fantasioso faz parte da natureza humana para Jung. Entretanto, a fantasia só possui valor se transformada em matéria-prima aproveitável, ele diz.A divisão final entre tipos irracionais e racionais, tipo perceptivo extrovertido, tipo intuitivo extrovertido, entre outros, é interessante, porém, eu não compreendi essa parte.Gnosticismo, elementos bíblicos e mitológicos, e obras poéticas alemãs ajudam a tornar o livro de agradável leitura. Tudo isso é uma antecipação para a tese final de Jung sobre os tipos psicológicos.