Como derrubar ditaduras
Gene Sharp é um dos cientistas políticos mais famosos do mundo e esse livro o tornou célebre e odiado em muitos países no mundo, países esses ,é óbvio, que vivem sob ditaduras. Da ditadura à democracia é um livro de leitura rápida (eu mesmo li em menos de 2 horas). Sharp não usa de metáforas ou de circunlóquios para expor o seu pensamento, uma vez que desde a primeira página ele já explica como um ditador pode ser deposto. Nem é preciso discutir se seu método funciona, basta olharmos a recente primavera árabe que foi em grande parte influenciada por esse livro. Vou fazer uma pequena análise sobre alguns dos métodos que ele propõe durante essa obra.
Lembro que nesse livro Sharp não identifica quais sejam as características específicas de uma ditadura, pois ele supõe que todos estejam de acordo nesse assunto.Primeiro é preciso saber se você pode ou não negociar com o tirano ou se deve partir para uma resistência armada. Sharp não acredita nesse tipo de ação. Negociações só servem para o ditador ganhar tempo e uma solução armada favorece quem está no poder. Deve-se sempre atacar uma ditadura pelos seus pontos mais fracos e não pela luta em campo aberto ou por guerrilhas.
Sharp acredita que todos os ditadores possuem um ponto fraco, uma vez que nunca podem controlar toda a população. As fraquezas dos ditadores podem ser essas( cito algumas), segundo Sharp:
A cooperação de uma multidão de grupos, pessoas e instituições que o sistema precisa para operar podem ser restritos ou retirados;
Os requerimentos e efeitos das políticas passadas do governo deverão de alguma forma limitar a presente habilidade de se adotar ou implementar políticas de conflito;
O sistema pode se tornar rotineiro em sua operação, menos apto de se ajustar rapidamente a novas situações.
Depois disso, quem está se rebelando deve se preparar para uma ação não-violenta. Sharp indica diversas formas dessas ações que podem ser de não-cooperação econômica e social, greves, boicotes, o estabelecimento de um governo paralelo e a intervenção não-violenta por meios psicológicos, físicos, políticos e econômicos. Passada de teoria à prática, Sharp estabelece quatro mecanismos de mudança: o primeiro é a conversão da população aos ideais do grupo; o segundo é a acomodação, que é quando o grupo resolve diferenças internas; o terceiro é a coerção não-violenta, que acontece quando as forças oponentes passa a não reprimir à revolta; e o último é a desintegração, que é algo que acontece às forças do ditador que não mais obedecem a seu líder.
O livro agora explica como é importante ter um planejamento estratégico. Isso é importante para se ter um avanço com objetivos claros, de maneira que quando o ditador for deposto, outro não entre em seu lugar, como aconteceu na França depois da Revolução. O que os manifestantes devem se perguntar são essas questões listadas abaixo, segundo Sharp:
Quais são os maiores obstáculos para se alcançar a liberdade?
Quais fatores vão facilitar a alcançarmos a liberdade?
Quais são as maiores forças da ditadura?
Quais são as várias fraquezas da ditadura?
Quais são as fraquezas das forças democráticas e como elas podem ser corrigidas?
Tudo isso tem que ser resolvido antes de se passar para uma escala maior de ação. Sharp considera que o grupo não pode contar com ajuda externa, pelo menos não no início. A derrubada do ditador também pode ser alcançada com atitudes simbólicas de resistência, como distribuir flores, fazer uma vigília em um monumento de grande importância, entre outras coisas. O grupo também precisa controlar áreas estratégicas do território e minar a confiança do exército do ditador, fazendo com que esses soldados se voltem contra o seu líder.
Para fortalecer ainda mais o movimento, Sharp recomenda que se espalhem células de resistência que iriam imprimir jornais, panfletos e livros, e ajudariam a espalhar a solidariedade entre a população. Foi isso que aconteceu na Polônia nos anos 1970 e 1980, e que ajudou a derrubar a tirania comunista.
Depois de derrubado o ditador, os líderes do grupo devem restaurar a constituição ou fazer uma nova. Deve ser discutido o que fazer com os antigos membros do regime, mas de qualquer forma uma vingança sanguinária deve ser evitada. Por último, as forças de defesa devem ser reforçadas para se evitar um golpe.
O livro é muito bom e serve de exemplo para povos que estão sob a tirania de ditadores para que eles possam se mobilizar. Muito inspirado por Aristóteles, Sharp nos oferece um guia de resistência e enfrentamento sem apelar para a violência.