Resenha de As Leis de Platão

Platão As Leis

No livro III de As Leis, o personagem O Ateniense( Platão) pergunta a Clínias qual é a origem das constituições. Esse pede ao Ateniense a explicação e esse conta um mito: no princípio, já existiam cidades e constituições, mas o grande dilúvio que destruiu o mundo ( que é narrado em seu diálogo Crítias) fez desaparecerem as cidades e as constituições. O Ateniense diz que é fácil de se presumir que apenas aqueles que viviam nas montanhas, isso é, os pastores conseguiram sobreviver.

Depois de algum tempo, a humanidade foi se reunindo novamente, e com a ajuda dos deuses conseguiu recuperar algumas das antigas invenções do homem. Esses homens passaram a se organizar através da autoridade do pai, que é o primeiro governo que se estabelece com a autoridade pessoal; o segundo é a reunião de clãs de famílias que se organizaram, e esses formam a aristocracia; o terceiro é o Estado misto, que Platão classifica como democracia, e por fim, o quarto que é a confederação desses três Estados associados que formam a nação.

Platão faz algumas observações sobre os Estados que existiam em sua época. Aos persas ela reprova o fato de que a educação dos reis  desde o reinado de Ciro ter sido confiada a mulheres e eunucos. Com isso o filósofo acredita que os persas desde então foram dominados pela escravidão e pelo despotismo.

O legislador, segundo o discurso do Ateniense, deve procurar a liberdade, a unidade e a racionalidade para o Estado que governa. A liberdade no império persa foi perdida pela escravidão. Mas e quanto a Atenas? Será que Platão considerava essa cidade-estado como aquela que alcançou as leis mais justas? Não, porque Atenas caiu no erro oposto ao do império persa e introduziu a liberdade sem limites, isto é, a democracia. Mais uma vez, assim como em A República, Platão conclui que uma excessiva liberdade e revolução na música seja a característica de um Estado em que a liberdade destrói os costumes e as leis.

Existe nesse diálogo As Leis toda uma série de recomendações que o legislador deve impor aos cidadãos do Estado socialista imaginado por Platão. É claro que algumas dessas leis são claramente impraticáveis, como a comunhão de mulheres e filhos. Isso vai ser descartado por Aristóteles em sua Política. Platão no entanto estava muito preocupado com a harmonia e a beleza dos pais, dos filhos e da sociedade como um todo. É por isso que ele vai escrever longamente sobre a educação.

Repetindo algumas das ideias já expostas em A República, Platão concede à música e ao movimento um grande destaque em sua Paidéia; inclusive é de se espantar que ele considerasse a educação da criança pela forma que sua mãe agisse durante a gravidez. É durante a gravidez e quando o bebê ainda está no colo que começa o processo de educação. A criança nesse estágio seria educada pelo movimento da mãe ao embalá-la e com canções de ninar apropriadas para que já nesse estágio adquirisse uma personalidade estável e corajosa, visto que Platão queria evitar ao máximo que o medo penetrasse na alma de uma criança.

A educação seria igual para meninos e meninas, com ambos aprendendo ginástica, equitação e arco e flecha. Depois de exibir uma misoginia que estava quase que ausente em suas outras obras, Platão se retrata e defende a igualdade de homens e mulheres, pelo menos nesse ponto. As mulheres devem aprender ginástica e a arte da guerra para que quando a cidade fosse atacada elas pudessem se defender e à cidade. A educação dessas crianças também deveria incluir a matemática, a poesia e a astronomia. Platão quer que o homem se prepare para a guerra para poder viver em paz. Ele acredita que o homem deva se ocupar de coisas sérias, e nada existe de mais sério do que a divindade( Demiurgo). Ora, o homem foi criado como um brinquedo da divindade, e isso é a melhor parte; portanto o ser humano deve se preocupar com a melhor parte e divertir-se com os jogos mais excelentes. Devemos, segundo o filósofo, viver sacrificando, cantando e dançando, vivendo assim em paz e contemplando alguns lampejos da verdade.

O Estado proposto por Platão em As Leis é socialista como em A República, mas em As Leis a religião possui uma importância muito maior do que na República, e ao contrário da sociedade imaginada por Sócrates nesse diálogo anterior, em As Leis a escravidão é introduzida e seu funcionamento é descrito em detalhes.

As Leis não é um livro agradável de se ler, o que pode parecer estranho para quem está acostumado a ler os diálogos de Platão como o Banquete, Fedro e Político. Não gostei muito, a não ser quando Platão discute o problema da educação. Nesse momento o diálogo ganha força.

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