A ideia de felicidade em John Rawls

Felicidade

A busca pela felicidade está presente na obra de muitos filósofos, de Aristóteles a Stuart Mill. Se tantos já escreveram sobre ela desde a antiguidade, o que a filosofia política do século XX poderia dar de contribuição a esse tema? O filósofo americano John Rawls muito contribuiu para essa discussão. Em sua obra Uma Teoria da Justiça, Rawls tenta diferenciar a sua tese de doutrinas como a de Aristóteles e do hedonismo. Na justiça como equidade, não existe apenas um único fim como a contemplação, Deus ou o prazer. Existem na verdade muitos fins para os seres humanos, e eles podem ser buscados desde que não interfiram no conceito de justiça e no direito dos outros. Nossa própria verdade não pode ser um obstáculo à justa procura da felicidade de outras pessoas.

Ser feliz, não é, para Rawls, uma maneira de usarmos todas as nossas capacidades e dons. Ele escreve:” É tentador supor que todos poderiam realizar plenamente suas capacidades e que pelo menos alguns poderiam tornar-se exemplos consumados de felicidade. Mas isso é impossível.É uma característica da sociabilidade humana que sejamos, sozinhos, apenas parte do que poderíamos ser. Devemos procurar em outros as excelências que precisamos deixar de lado, ou das quais sejamos totalmente destituídos. A atividade coletiva da sociedade, as muitas associações e a vida pública da comunidade mais inclusiva que as rege, sustenta nossos esforços e permite a nossa contribuição. Contudo, o bem alcançado e proveniente da cultura em comum excede em muito o nosso trabalho, no sentido em que deixamos de ser meros fragmentos:aquela parte de nós que alcançamos diretamente junta-se a uma estrutura mais ampla e justa cujos objetivos nós afirmamos. A divisão do trabalho não é superada por meio de cada um tornar-se completo em si, porém pelo desejo e pelo trabalho significativo dentro de uma justa união social de uniões sociais da qual todos possam participar com liberdade segundo suas inclinações.”( Uma Teoria da Justiça, editora Martins Fontes, pág 653)

Ser feliz nessa sociedade em que reina o contrato social é buscar um fim que seja racional para você mesmo ou para um grupo de pessoas. Rawls não admite um fim que possa levar à desordem da sociedade com juntar muito dinheiro ou conquistar poder político. Também considera que o fim da vida ser ver a Deus como algo com que nem todos concordam. Essa opinião é, decerto, de uma influência Kantiana.

Ser feliz para Rawls é viver de acordo com o que é justo e de modo que nossa busca pela felicidade seja acompanhada de um benefício para os infelizes. A justiça como equidade de Rawls pretende fazer com que os infelizes e os que estão em situação menos favorável não se sintam de maneira alguma injustiçados.

Na sociedade bem-ordenada todos poderão desenvolver seus dons de maneira adequada em diversas associações que cooperam umas com as outras.A noção de justiça é mais importante do que a de bem, porque na posição original todos concordaram em respeitar aos desejos, características e dons de cada um. Ameaças como a inveja e o ressentimento seriam tolhidas no início pela a ação do grupo. Rawls defende a igualdade pois acredita que esse é o fator que indica que a justiça como equidade está funcionando. Essa igualdade não é estabelecida por um sentimento de inveja, porque se assim fosse, também poderíamos dizer que se um grupo dominante reage à perda de seus privilégios é porque é dominado pela avareza.

Poderíamos dizer que a pessoa que faz a justiça funcionar na sociedade e que age de maneira a beneficiar aos outros é que possui a felicidade na sociedade de Rawls.

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