Filebo é um diálogo que trata do prazer. Sou da opinião que antes de ler esse diálogo o leitor já deve ter lido o Parmênides e o Político para uma melhor compreensão. Participam do diálogo três personagens: Sócrates, Protarco e Filebo. No início, Filebo faz a afirmação de que a vida de prazeres é mais desejável do que a vida do saber. Sócrates então sugere que se for demonstrado que o prazer é superior e não precisa de nenhum outro bem, então o prazer será o vencedor; caso seja o saber, o mesmo acontecerá. Uma pequena discussão entre Sócrates e Protarco acontece pelo fato desse último não fazer uma diferenciação entre os graus dos prazeres. Depois de algumas perguntas e respostas, Sócrates vence o debate.
Começa então um debate sobre as relações do Uno e do Múltiplo. Nesse ponto, Giovanni Reale( Para uma nova interpretação de Platão) afirma que “depois de ter destacado que a conexão do Uno e dos Múltiplos estabelecida pelo raciocínio encontra-se em toda parte e sempre, em todas as coisas de que se fala, Platão explica que, para superar as dificuldades que isso comporta, é necessário proceder pela via pela qual foram feitas todas as descobertas no âmbito das artes”. Platão fala sobre o mito do deus Thoth e como ele criou a arte da gramática, pois o homem com as vogais e consoantes isoladas não podia, por si só, compreendê-las. A voz, diz Reale,” é uma espécie de Ideia e também é uma multiplicidade ilimitada em cada um e em todos”. Com isso “obtém-se uma trama lógico-ontológica traduzível em número, que permite passar, depois, aos sons sensíveis individuais.”(Reale)
O diálogo fala sobre questões metafísicas na sequência. Sócrates que definir o que é ilimitado, o limitado e a mistura para saber a natureza do Uno e do bem, pois uma vida apenas de saber ou de prazer é impossível.Ora, lendo o diálogo entendemos que Sócrates fala sobre o que é ilimitado, como o são o frio e o quente, e o limitado, que são o dobro e a classe dos números que tudo torna harmonioso, com isso o que é lento e rápido formam a harmonia da música, e o quente e o frio geram as estações. Sócrates então afirma: “Essa deusa, belo Filebo, observando como o excesso e a perversidade universal conquistavam a predominância, devido à ausência de limite para os prazeres e o seu gozo, instaurou a lei e a ordem, que impõem limite. Dirias que ela, com isso, causou dano; eu, ao contrário, diria que ela promoveu a salvação.”
Com isso temos quatro categorias: o limitado, o ilimitado, a mescla entre esses dois e a quarta que é a causa dessa mescla e geração que é o Demiurgo. Com isso estabelecido, Sócrates reafirma que a inteligência ( Nous) é o nosso rei no céu e na Terra e define o homem como uma mistura de prazer e saber. O livro é um pouco parecido com a Ética a Nicômaco de Aristóteles. O meio-termo é buscado durante o diálogo, e o Uno é considerado a causa da mistura, a coisa de supremo valor, e que por ser o bem, o Uno transforma a mistura em algo bom também( Reale).
Max Pohlenz define de maneira admirável o que Platão entendia como Medida: ” Para Platão, a eudaimonia consiste em um prazer puro: a alegria refere-se ao belo sensível, no qual entram em primeiro lugar as formas geométricas e o gozo que traz a atividade espiritual(…) Pode nos parecer estranha a importância atribuída à medida, posta no vértice da escala de valores: mas na realidade Platão entende por medida o absoluto, e escolhe essa denominação porque o absoluto inclui em si não só o bem entendido em sentido finalístico, mas também o belo e um princípio de ordem e de proporção e constitui a causa primeira do seu existir concreto e a norma da sua exata mistura.” ( citado em Reale)