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Não há filósofo na história que escreva melhor do que Platão; pode-se dizer que desde então a qualidade literária dos filósofos vem em uma longa decadência. Como foi possível que um tema tão complexo e que poucas pessoas realmente demonstraram interesse em ler e aprender o que Platão queria ensinar, pudesse ser colocado em palavras e diálogos tão belos e profundos? Nesse caso, poucos são aqueles que podem dizer que entenderam esse que é o mais desafiador dos diálogos de Platão. Se eu dissesse que entendi em profundidade estaria mentindo, por isso, pretendo mais fazer um resumo do que expor a minha opinião.

Participam do diálogo três personagens principais: Parmênides, filósofo que viveu no século V antes de Cristo; Zenão de Eleia, que era contemporâneo de Sócrates, e o próprio Sócrates, aqui em sua juventude. Em um encontro imaginário entre esses três filósofos, uma questão se impõe: existe uma forma de semelhança por ela mesma e que exista outra que seja oposta à primeira forma que todos nós classificamos como múltiplas e participamos dessas duas? Essa é a pergunta de Sócrates. O jovem filósofo questiona a Zenão se as coisas não são unas na sua unidade e múltiplas na sua multiplicidade. O exemplo de Sócrates é o seguinte: não podemos dizer que somos múltiplos pelo fato de termos um lado esquerdo e outro direito, da mesma forma que temos nossa frente e nossa traseira?  da mesma forma podemos afirmar que somos unos pois no meio de um grupo de pessoas podemos dizer que representamos uma unidade nesse grupo.

Vamos ver quais eram as opiniões de Parmênides e de Zenão em termos históricos.

Parmênides acreditava na unidade e imobilidade do Ser, e que esse Ser é uno, eterno e imutável.

Zenão definia Deus como eterno e tendo também como atributo a Unidade. Ele não teria atributos da multiplicidade como ser limitado e móvel, nem imóvel e ilimitado, pois essas são características do não-ser.

Voltando ao diálogo, Parmênides questiona Sócrates sobre a doutrina desse último sobre as formas. Sócrates responde que não está certo de que exista uma forma ideal do ser humano, assim como do fogo e da água; ele não crê que existam formas ideais de coisas ridículas. Parmênides pergunta a respeito se essas formas seriam unas, e Sócrates responde que sim, pois elas manteriam sua unidade mesmo estando em lugares diferentes. Parmênides dá o exemplo de uma vela que ilumina várias pessoas ao mesmo tempo e assim mesmo mantém sua unidade. Sócrates concorda. Mas Parmênides questiona sobre a teoria das formas de Sócrates a respeito de como outras coisas participariam dessas Formas se delas não podem participar enquanto partes ou enquanto todos. Sócrates reconhece que isso não é fácil de ser resolvido.

Parmênides acredita que Sócrates confunda o Uno com o que é grande, com isso o jovem filósofo estaria multiplicando as Formas ao infinito. Sócrates responde que cada uma dessas formas seria apenas um pensamento. Elas seriam uma coisa singular pensadas por esse pensamento como sendo algo pertinente a tudo, e como sendo uma forma, diz Parmênides. Sócrates afirma que essas Formas existem na natureza como modelo ( paradeigmata), e as outras coisas se assemelham a elas e nada mais.

O diálogo segue com Parmênides fazendo algumas objeções à teoria das Formas de Sócrates e, por fim, diz a ele que os conceitos que ele possui sobre essas Formas e o que é belo são ainda precipitados pelo fato dele ser jovem. Parmênides, Sócrates , Zenão e um jovem chamado Aristóteles ( que não é o famoso estagirita) iniciam um novo diálogo com esse último respondendo perguntas desafiadoras de Parmênides.Ele pergunta o seguinte, entre uma multidão de  outras questões: se o uno existe, não é possível que seja múltiplos, não é mesmo? e o que se segue é um resumo da doutrina de Parmênides  sobre o uno em forma de perguntas e respostas.

Em determinado momento desse jogo entre Parmênides e Aristóteles, o primeiro define alguns dos atributos do uno que o último é obrigado a reconhecer. Parmênides afirma que o uno participa da existência e do ser. Como comenta Mário Ferreira dos Santos a respeito desse diálogo, o Um não está no tempo, pois tudo o que está no tempo é sempre da mesma idade; mais velho que si mesmo; mais jovem que si mesmo; por causa disso, o Um é atemporal. Explica o filósofo brasileiro: ” quando ele( Parmênides) diz: Então o Um não participa do ser de nenhuma maneira ( Oudamos ara to en ousias metexei) refere-se à Ousia, que corresponde à substantia dos Latinos, o que constitui o ser ôntico da coisa e também a sua essência, como substância segunda, como forma. O Um não tem realidade fáctica ( de factum, feito), não é um ser feito, pois tais seres participam do ser ( ousia). Mas tanto em Platão como em Aristóteles, a ousia é o que se opõe, to me enai, ao não-ser. Se o ser não é a substância ( ousia) seria um não-ser.”

É um livro fascinante e muito desafiador. Conhecer um pouco da filosofia de Parmênides é essencial antes de começar a ler esse diálogo. Nele o jovem Sócrates desempenha o papel de aprendiz diante de um imponente Parmênides. Recomendo para entender melhor esse livro, a obra de Mário Ferreira dos Santos- O Um e o Múltiplo em Platão.

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