Fedro é a continuação do tema discutido em O Banquete, ou seja, o tema é o amor. O diálogo inicia-se com Fedro se encontrando pelo caminho com Sócrates. Fedro voltava da casa de Lísias, que era um mestre da retórica e redigia para ambos os lados nos tribunais. Fedro conversa com Sócrates sobre a bela impressão que um discurso que Lísias proferiu em sua casa causou em sua mente. Sócrates fica curioso e pede que Fedro o reproduza para que ele possa analisá-lo.
O discurso de Lísias versa sobre o amor entre homens como era comum naquele tempo da Grécia clássica. Lísias acredita que a paixão entre dois amantes é prejudicial porque nunca é satisfeita, e está sujeita a muitas aflições, como o medo da separação e o favorecimento após a separação ao novo amado, em prejuízo do antigo amante. Ele acredita que quem está apaixonado não consegue manter os seus negócios e nem está em seu juízo normal. Pela conversa entre os amantes, diz Lísias, podemos até saber se já se uniram ou vão se unir sexualmente. O homem que vive pela paixão não só por outras pessoas, mas também pelo dinheiro e pelo conhecimento, vivem em constante angústia pela existência de outros homens que os suplantem em termos financeiros e de conhecimento. Lísias acredita que é melhor viver sem se apaixonar, e preferir à amizade do que a paixão. ” Liberto do amor, sou capaz de me dominar”, proclama Lísias. Então começa uma série de recomendações de Lísias sobre a vantagem da amizade que não espera o amor em troca, do que a paixão. Dar comida aos mendigos e preferir os amigos que vão estar ao seu lado na velhice e não apenas na juventude, são alguns dos conselhos dados pelo orador.
Sócrates ouve tudo isso e, ironicamente, diz a Fedro que adorou o discurso. Este último então pede que ele faça um de seus famosos discursos para que possa compará-lo com o de Lísias. Sócrates aceita o desafio.Ele então explica que o que Lísias definiu não é o amor verdadeiro, guiado pela temperança, mas sim a paixão, que é uma forma de amor dominada pela intemperança. Esta última é dominada pela busca do prazer; o primeiro pela busca do que é melhor. Sócrates define o homem apaixonado como sendo aquele que deseja que o seu amado seja inferior a ele, pois quem é movido pela paixão não suporta a ideia da existência de um homem que lhe seja superior. Mais grave, diz Sócrates: o homem apaixonado acaba por fazer o pior ato em relação ao amado, que é afastá-lo da filosofia. Outro ato que o apaixonado pratica é não desejar ou permitir que o amado se case e tenha filhos ( lembremos que o diálogo é sobre o amor entre homens). Sócrates interrompe seu discurso e Fedro fica decepcionado por esse ter sido tão curto.
É aí que o diálogo muda de tom, pois Sócrates é possuído nesse momento por um daimonion, o qual faz o filósofo grego se arrepender pelo seu discurso anterior. A partir desse momento, Sócrates pretende fazer um elogio a Eros e apresentar sua definição da natureza da alma e o seu destino. Sócrates define a alma como imortal porque tudo aquilo que move a si mesmo e não é movido por outro é imortal. Nesse ponto Sócrates conta o mito do cocheiro ( ou carro alado): a alma pode ser comparada a um carro puxado por uma parelha conduzida na sua frente por cavalos e atrás por um cocheiro. A alma divina é conduzida por cocheiros e cavalos de boa raça; a dos outros é conduzida por cavalos mestiços. O que Sócrates quer dizer com esse mito? Ele explica o destino das almas e como elas perdem suas asas. A alma quer contemplar o que é belo e eterno, pois isso as fazem crescer; do mesmo modo tudo aquilo que é mau e feio faz com que as asas diminuam. Lá no céu, os deuses preparam um banquete. Os carros alados então começam a subir por um caminho tortuoso. Nesse momento o carro puxado pelos cavalos de boa raça segue seu caminho sem dificuldade, enquanto a de raça mestiça puxa para a Terra. Aqueles conduzidos pelos cavalos de boa raça então chegam e contemplam o universo. Esses serão aqueles que contemplam a realidade da Ideia, que é a ciência perfeita, após terem passado pela vida e contemplado a ciência e a justiça, dessa forma quando seus carros chegam ao céu, o condutor dos cavalos dá-lhes néctar como recompensa. Isso é o que Sócrates define como a vida dos deuses.
Quanto ao destino das almas conduzidas por cavalos mestiços, o seu destino é no momento da subida, quando os cavalos começam a tropeçar, elas passam a olhar somente para baixo, ou seja, para a realidade, perdem parte das penas de suas asas e não contemplam o Ser Absoluto, de modo que elas caem e ficam presas a simples opinião( DOXA). Mais adiante, Sócrates fala sobre o conceito da reminiscência ( ANAMNESE). A única alma que recebe asas é a do filósofo, pois esta com a evolução da alma sempre relembra das verdades eternas que contemplou. É pelo fato desse homem praticar essas recordações que sua vida se assemelha à de um deus. Sócrates considera o filósofo que ama o que é belo como o verdadeiro amante, pois este quer sempre voar para o alto ainda aqui na Terra, sendo tomado nesse instante por uma espécie de loucura. Esse homem que foi iniciado nos mistérios não mais se entregará aos vicíos como a pederastia e nem à realidade desse mundo. Todo aquele que não foi iniciado ou se corrompeu entregar-se-á aos prazeres da carne.
Depois de terminar o seu discurso, Sócrates volta à realidade, e diz para Fedro que o discurso que fez quando estava sob a influência do daimonion corrigiu o primeiro, quando ele concordou com o caráter negativo do amor da mesma forma que Lísias. O Sócrates do segundo discurso fala sobre o amor divino e aos bens espirituais, que são aqueles que ele crê que os homens devam buscar; o primeiro discurso reflete sua certeza de que o amor ao prazer carnal ( pederastia) e às opiniões desse mundo são nocivos.
Fedro é um livro muito belo e poético, que define de maneira breve algumas das concepções da psicologia de Platão. A teoria da reminiscência ( ANAMNESE) será discutida novamente no seu diálogo A República. Platão acredita que o verdadeiro amante da sabedoria e amigo dos deuses é aquele que relembra o que viu no mundo das Ideias, quando contemplou a verdade e a justiça. Quando está nesse mundo, esse homem que vive a vida de filósofo e que pensa e ensina tudo aquilo que um dia viu e aprendeu, tem a obrigação de ensinar aos que ainda estão presos na caverna e só observam as sombras na caverna a respeito das verdades eternas, para que possa libertar àqueles que ainda vivem a vida da DOXA e do amor intemperante, fazendo dessa forma que o verdadeiro amor possa ser dirigido às questões do espírito, liberando o homem da prisão da carne.