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Francis Bacon é considerado o pai do método científico e tem como obra principal o Novum Organum, O Novo Método, em referência ao Organon de Aristóteles. Quem conhece a história do pensamento científico medieval sabe que Francis Bacon é o representante renascentista de uma grande tradição inglesa de pensadores empiristas. Recordemos de Roger Bacon, cujas palavras parecem às vezes até terem sido plagiadas por Francis; temos Robert Grosseteste, e seus estudos de óptica de inspiração platônica e mestre de Roger Bacon. Há de enfatizar-se que o espírito medieval de tentar ver na natureza provas a posteriori da existência de Deus permeia a obra de Francis Bacon. Sem o espírito escolástico de Idade Média nosso filósofo torna-se incompreensível.

Francis Bacon aparenta ser um grande adversário de Aristóteles em muitas partes. Isso, porém, é enganoso. Ele ainda retém muitas das ideias aristotélicas, especialmente a indução, que ele critica no estagirita, porém adota sob uma outra forma. Ele ataca o silogismo aristotélico e a indução por axiomas do mesmo, e pretende inaugurar um novo tipo de indução. Ele recebe muitas influências de Platão, porém não compreende direito o método dedutivo do mesmo, mas a presença do Mito da Caverna é marcante em seus famosos Ídolos.

Os Ídolos criados por Bacon têm óbvia semelhança com a situação dos prisioneiros da caverna platônica. Cabe ao verdadeiro cientista limpar o terreno de vários pré-conceitos e dos dados dos sentidos que facilmente nos enganam. Neste ponto, Bacon é verdadeiramente platônico. Começa, no entanto, a abandonar Platão quando coloca como autoridade maior a partir de agora o experimento em si mesmo, e esta autoridade é estranha e discutível. Bacon critica Aristóteles por ter desprezado seus antecessores, mas faz o mesmo; está convencido de que inaugura uma nova era (o que não deixou de ser verdade). Apesar de sua admiração pelos gregos, diz que os mesmos não eram práticos, porém deveria ter prestado atenção aos aspectos políticos e filosóficos envolvidos para que uma ciência verdadeira pudesse ter surgido.

Aristóteles ensina que cabe à ciência política guiar todas as outras ciências. Se um Estado não tem estabilidade política, dificilmente pode dele surgir alguma ciência válida. Da mesma maneira, Platão dava grande ênfase ao ensino de uma teologia que fosse verdadeira. Os deuses passionais de Homero não favoreciam o pensamento científico, por isso Platão os bane de sua República. Toda uma Paideia tem de estar envolvida para que uma sociedade seja sólida. Bacon, como escrevi, é herdeiro da Escolástica medieval, apesar de suas afirmações de que a teologia seria perda de tempo. Se não fossem os medievais e suas buscas por dados a posteriori da natureza, Bacon não existiria.

Alguns diriam que Bacon é também fruto desta civilização prometeica, ou fáustica, que Spengler acredita ter surgido por volta do ano 1000. Só que uma civilização prometeica tem de estar revoltada com os fatos que nos estão disponíveis, pois as condições da humanidade não são das melhores em estado de natureza. Talvez isso possa ser mais bem aplicado a Karl Marx do que aos medievais que viam as coisas com otimismo. O método medieval dos escolásticos, porém, não era dos mais adequados por causa de sua indução via abstração. Para as ciências, a ignorância do geral é um ponto de fraqueza que vai comprometer todo o resto futuramente. Outro problemas com este método é a tendência marcadamente materialista que ela tende no final. Cada vez mais imersa numa multidão de fatos isolados, perde-se a visão do alto, e o positivismo torna-se lei. A longo prazo, a ciência viria a praticar em algumas áreas o dogmatismo medieval por querer fazer de uma indução de algo extremamente complexo (tenha em mente o Evolucionismo, que pretende, vejam só, explicar TODA a vida!), e daí só pode surgir uma aberração pseudocientífica. Como demonstrou o platonista Thomas Taylor, a verdadeira indução tem de ser feita com particulares simples, para que a conclusão seja rápida e sem hesitação. Se não for assim, a indução é o caminho para o desastre.

Bacon reconhece a importância dos alquimistas para as descobertas científicas e invenções que o antecederam. Eram, no entanto, altamente metafísicos; Bacon também foi incapaz, pelo que vemos em sua crítica a Proclo, de reconhecer a importância das matemáticas para o desenvolvimento da ciência. A matemática sempre foi a grande ciência platônica, e Bacon estava por demais imerso no sistema medieval de coletar dados sensíveis da natureza para a demonstrar a glória de Deus. Tanto os cristãos quanto Aristóteles acreditam que o melhor de fato já aconteceu. O esquema de uma Criação a partir do nada levou os cristãos a ver a ciência muito como um recordar dos antigos filósofos e de apenas buscar os dados da Glória Divina. Este esquema coletor de dados, que leva a Bacon a afirmar que a natureza deve mesmo ser torturada para revelar seus segredos, é bem reveladora de seu espírito medieval. Para os platônicos recolher dados sensíveis é um nível bem baixo de ciência; não entrou no Novum Organum um tipo de ciência que visse o universo segundo a matemática.

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