Resenha de O Século Soviético, de Moshe Lewin

Seculo Sovietico

 

A União Soviética foi a maior experiência revolucionária da história, e sua existência marcou o século XX nas áreas política, econômica, tecnológica e militar. Moshe Lewin defende a ideia de que a revolução foi positiva, apesar dos crimes de Stalin em seu Grande Terror e no processo de industrialização durante a década de 1930. Uma tese polêmica do autor é que ele diz que Lenin em seus últimos dias lutou para evitar que o poder caísse nas mãos de Stalin, e que sua última vontade era de criar um regime que fosse lentamente caminhando para uma democracia.

Se analisarmos a mentalidade de Lenin, veremos que essa tese de Lewin é falsa. A mentalidade do comunismo só funciona com a existência de um líder que concentre em suas mãos todo o poder. Lenin nunca admitiu concorrência, e viu em Stalin um homem de ação, que ele preferiu ter como homem de confiança muito mais do que o teórico Trotsky. Lewin tenta inocentar Lenin dos futuros crimes de Stalin, mas não convence.

O autor não escreve muito sobre o período stalinista, preferindo se concentrar em Khrushchov e seus sucessores. Ele louva às conquistas do mundo soviético como a educação em massa, uma legião de leitores entre a população e a existência de uma ordem pública.

Lewin também demonstra que a experiência da liberação do aborto na década de 1920 resultou em um grave problema de natalidade e de invalidez entre às mulheres. Stalin dificultou o aborto na década de 1930. Outra distorção foi o fato da busca forçada de igualdade entre homens e mulheres, em que essas últimas foram obrigadas a realizar trabalhos pesados na indústria, o que prejudicou sua saúde física e mental.

Lewin é contraditório em elogiar aos feitos do comunismo, ao mesmo tempo que tenta dissociá-los do regime de Stalin. Ora, se a União Soviética foi o que foi, isso se deve em sua maior parte à personalidade se Stalin, ou Lewin acha que a indústria pesada, e o complexo militar e espacial soviético surgiram graças a quem?

Se o bolchevismo foi vitorioso, diz Lewin, isso se deve ao fato de que o exército Branco na guerra civil russa tinha como objetivo ressuscitar o feudalismo-escravocrata do czarismo, assim como o velho antissemitismo russo. O exército Branco perdeu porque não tinha nada a oferecer à população.

No final do livro, Lewin lamenta a situação atual da Rússia, que está dominada por gângsters, mafiosos e drogados. Todo o sistema soviético de proteção social desapareceu, e nada foi oferecido que fosse superior ao que existia.

Agora, uma reflexão sobre as inegáveis conquistas do regime soviético: Tudo isso fez valer o sacrifício de milhões nos Gulags, no Grande Terror, na perseguição aos religiosos, e sobretudo em uma tentativa que se revelou trágica de criar um homem novo e uma sociedade nova? A resposta é não. O livro de Lewin é uma boa reflexão sobre esse período, especialmente se você gosta de ler sobre a revolução russa e a história do comunismo.

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