Nazismo e Cristianismo positivo
O santo reich é um livro sobre até que ponto o cristianismo era aceito entre os nazistas, e a opinião desses sobre o antigo e o novo testamento, a igreja e Jesus Cristo. O nazismo não pode ser caracterizado como ateu, até porque havia muitos protestantes e católicos entre seus membros. O nazismo foi, na verdade, um movimento de caráter místico e gnóstico, com alguns elementos de socialismo e paganismo germânico. Isso não impediu que alguns cristãos aderissem ao partido, mas como fica evidente no livro, esse cristianismo era alterado para atender às exigências nazistas.
Steigmann-Gall notou como os nazistas estavam mais próximos do protestantismo do que do catolicismo, por causa da admiração que muitos nazistas sentiam por Lutero, uma vez que o líder da pseudo-reforma protestante era um nacionalista e, acima de tudo, um antissemita como a igreja católica jamais foi. O livro de Lutero “ os judeus e suas mentiras” fazia muito sucesso entre os membros do partido nazista, no entanto, os nazistas culpavam Lutero porque ele não eliminou o antigo testamento da Bíblia.
Os nazistas eram adeptos de Marcião, e rejeitavam o Deus do Antigo testamento, pois eles o associavam ao judaísmo. Um dos líderes nazistas mais adepto do paganismo era Alfred Rosenberg, que publicou um livro obscuro chamado O Mito do Século XX, onde defendia sua ideologia de sangue e solo; entretanto, Hitler não gostava desse livro, nem jamais aderiu às crenças estranhas de Rosenberg. Assim como outros nazistas, Rosenberg odiava a igreja católica e tinha uma opinião favorável de Lutero, mas o grande inspirador dos nazistas sempre foi o herege Marcião.
No caso da filosofia, o nazismo tentou buscar apoio em um Nietzsche adulterado pelo marido da irmã do filósofo. Nietzsche em vida havia rejeitado o antissemitismo, mas havia defendido uma aristocracia dos mais fortes e desprezado o cristianismo por sua defesa dos mais fracos e vulneráveis. É estarrecedor como muitos “cristãos”, especialmente entre os protestantes, como está documentado no livro, aderiram ao programa de eutanásia de Hitler. O autor demonstra como esse programa era muito mais forte entre os “protestantes” do que entre os católicos. O movimento nazista também foi muito mais popular entre as mulheres protestantes do que entre as católicas. Milhares de mulheres aderiram à ideia de que esse sexo deveria ter como missão especial gerar os novos homens da elite nazista e da super-raça alemã.
As verdadeiras crenças de Hitler ainda são um assunto polêmico. Certamente não era ateu, mas o autor do livro também não diz que ele era cristão. Na minha opinião, o nazismo pode ser caracterizado como uma gnose marcionita, pois a heresia de Marcião nunca desapareceu totalmente do mundo cristão. Hegel e Schopenhauer foram influenciados por ele, e, no caso de Schopenhauer, isso é importante, pois foi esse o filósofo que mais influenciou Hitler ,e não Nietzsche.
Atribuo o fato desse livro ter tido pouca recepção pelo fato do autor demonstrar que o nazismo foi muito mais popular entre os “protestantes” do que entre os católicos. Na verdade esses “protestantes” que filiaram-se ao nazismo eram na maioria apóstatas da religião cristã, assim como foi entre os “católicos”. Mas eu não tenho dúvidas: se o autor incriminasse a igreja católica e seus membros, certamente esse livro venderia muito mais, mas felizmente Steigmann-Gall foi sincero e honesto nesse livro.
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