A vida do Revolucionário
Vladimir Ulyanov nasceu e cresceu sob uma família burguesa e estável, e recebeu excelente educação. A morte prematura do pai não o abalou, no entanto a execução de seu irmão parece ter tido algum impacto, apesar de não ter sido decisiva para transformá-lo em um revolucionário.
Lenin desde cedo concluíra que o socialismo na Rússia precisava se basear em outra classe social que não a camponesa. A noção de que Lenin devia suas idéias à proximidade com os camponeses de Samara é falsa, pois nessa época ele só se preocupava com os estudos.
Lenin havia decidido que a classe operária teria a primazia na formação da sociedade socialista e acreditava que o futuro da Rússia estava na indústria, na urbanização e na organização social em larga escala.
Service diz que Lenin era excessivamente paparicado por sua irmã e sua mãe, e isso lhe teria dado a consciência de que era um líder natural.
Marx acreditava que a Rússia poderia passar do feudalismo para o socialismo sem passar pela transformação capitalista. Lenin exagerava o quanto o capitalismo estava avançado na Rússia e recomendava que suas idéias fossem adotadas também no ocidente.
Lenin sentia orgulho de seu passado judeu e sempre combateu o antissemitismo. Durante seu exílio em Munique escreveu a sua obra mais famosa “Que Fazer”, inspirada no livro de mesmo nome de Chernyshevski. Nesse livro utilizou pela primeira vez o nome de Lenin, inspirado por Lena, um rio siberiano. No livro ele discute a questão organizacional e a prioridade por disciplina e unidade.
Ele adorava congressos, tinha um enorme poder de convencimento e rejeitava todo o sentimento na política.
Quando aconteceu a revolução de 1905, Lenin se animou. Falava em insurreição armada e expropriação da terra dos fidalgos. Nessa época foram criados os Soviets, e Lenin foi obrigado a voltar para São Petersburgo, onde disputava com Trotski a liderança em discursos. Durante os acontecimentos, Lenin entrou em conflito com os mencheviques, porque estes defendiam uma revolução democrático-burguesa que deveria ser liderada pela classe média, enquanto Lenin defendia uma ditadura do proletariado e repúdio pela classe média.
O início da guerra em 1914 surpreendeu Lenin, mas ele, assim como os bolcheviques, mantiveram uma posição contrária à guerra, que Lenin classificou como burguesa e imperialista.Ele sustentava que a guerra imperialista deveria se tornar a “guerra civil européia”.
Lenin acreditava na ciência e no progresso. Estudou Aristóteles, conhecia muitas obras de Hegel e achava que era o único que havia compreendido a Karl Marx.
A descrição de Robert Service da chegada de Lenin à estação Finlândia na capital São Petersburgo me fez lembrar a maravilhosa cena do genial filme Outubro, de Sergei Eisenstein.
Os capítulos sobre o Tratado de Brest-Litovsk e a luta de Lenin para assiná-lo e sobre a Nova Política Econômica são ótimos, mas a narrativa sobre a guerra civil é inferior à de “A Tragédia de um Povo” de Orlando Figes, que é muito mais completa e tem maior força.
Uma coisa me impressionou depois de ler as biografias de Lenin, Stalin e Marx. Há uma profunda diferença entre a moralidade familiar desses revolucionários e a moral que alguns militantes de esquerda pregam.
Por exemplo: Marx e Lenin eram burgueses que se mantiveram casados com suas esposas apesar de tudo. Stalin era um tanto pudico, e os três jamais pregaram o aborto, o amor livre e o controle da natalidade. Lenin era contrário a relações sexuais casuais; Marx odiava a Malthus; Stalin dificultou o aborto na União soviética nos anos 30 depois que percebeu os resultados catastróficos da liberação do aborto nos anos 20( Ver Moshe Lewin, O Século Soviético). Marx considerava o amor livre como bestial. Todos eles adoravam crianças( Lenin era frustrado por não ter filhos). Marx e Stalin jamais pregaram às suas filhas uma moral sexual liberal. Os três eram extremamente apegados às suas famílias e filhos.
Gostaria de saber o porquê dessa diferença entre a moral dos grandes revolucionários e o militante de esquerda comum. É curioso notar como os grandes líderes de esquerda de ontem de de hoje são muito apegados à família, não evitam filhos e seus negócios são sempre dinásticos, ou seja, são herdados pelos seus filhos e netos, enquanto o militante de esquerda comum prega o aborto e o amor livre-claro, sempre para a família dos outros, nunca para a própria. É algo para se refletir.
Tudo isso pode ser lido nas biografias de Marx( Francis Wheen) e Stalin( Simon Montefiore).